ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Narrativas documentais à luz do cenário socio-político |
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Autor | Mauro Giuntini Viana |
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Resumo Expandido | O Brasil atravessa um período de muita turbulência política, marcado por vultosas manifestações de rua (2013 e 2015), escândalos envolvendo corrupção em larga escala, impeachment da Presidente Dilma Rousseff (2016), polarização ideológica acirrada nas disputas eleitorais e chegada ao poder do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro (2018). O período de 13 anos (2003-2016) de governo de esquerda do Partido dos Trabalhadores (PT), foi caracterizado pela conscientização, mobilização e avanços no enfrentamento dos graves problemas sociais nacionais, decorrentes dos modelos econômicos vigentes. Os choques provocados por essas transformações, com viés ideológico de esquerda, explicitaram uma série de conflitos que estavam latentes no país. Com a ascensão política da extrema direita no país os avanços sociais dos governos de esquerda são questionados e colocados em cheque, gerando embates. Os conflitos decorrentes desses embates constituem material fértil para a construção de narrativas audiovisuais, especialmente documentais, que buscam compreender essa realidade. O presente estudo propõe uma reflexão sobre o impacto da crise política e ética no Brasil dos últimos anos sobre a narrativa cinematográfica documental. Para fazer esse estudo, toma-se como universo três documentários exibidos em mostras variadas do prestigiado Festival de Berlim (Berlinale) de 2019. Espero sua (RE)volta, de Eliza Capai, revela os meandros do movimento estudantil que promoveu a ocupação de escolas em São Paulo, maior cidade brasileira, e suas conexões com outros movimentos sociais, que impactaram todo o país. Chão, de Camila Freitas, expõe a luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra na ocupação de uma fazenda improdutiva no estado de Goiás, centro-oeste brasileiro. Fechando a análise, Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar, de Marcelo Gomes, traça com ironia uma crítica ao neoliberalismo ao retratar a vida em uma pequena cidade nordestina, que produz incansavelmente 20 milhões de peças de jeans por ano, sem direito a lazer. As análises dos filmes são feitas com base em conceitos narratológicos neoformalistas na acepção do teórico David Bordwell, e nas teorias do documentário propostas por Bill Nichols. Os conceitos do cognitivista Bordwell são utilizados, principalmente, no exame da articulação das instâncias narrativas do tempo, espaço, narração e personagens na transmissão de informações da história por meio da trama e seus efeitos sobre o espectador. A categorização dos modos de construção de representações da realidade propostas por Nichols – expositivo, observacional, interativo e reflexivo – são aportados no exame das estratégias narrativas adotadas pelos cineastas nos documentários estudados. |
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Bibliografia | Bordwell, David. Narration in the fiction film. Madison: The University of Wisconsin Press, 1985. |