ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Joan Jonas, do espelho ao vídeo |
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Autor | Paula Nogueira Ramos |
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Resumo Expandido | A artista Joan Jonas usa o espelho como primeiro e principal suporte de suas performances no final da década de 1960. A presença do objeto surge a partir da descoberta dos contos de Jorge Luís Borges, referência intrínseca para a criação de espaços simbólicos. Ainda que seu uso não seja escultórico em si, os espelhos estabelecem uma relação direta com a escultura, que passava por um processo de mudança naquele período devido aos artistas do minimalismo: o movimento do público tornava-se primordial para a especificidade dos objetos e para a presentidade adquirida em termos da percepção fenomenológica do corpo. (JUDD, 1965; MORRIS, 1978). Jonas recupera um motivo da pintura para alcançar tais características da arte minimalista. A artista apropria-se da ideia de mergulho no espaço pictórico, condicionando ao espelho a função de romper com a superfície da performance e, ao mesmo tempo, permitir a entrada do observador na espacialidade do objeto. O espelho, portanto, marca o novo pensamento da artista sobre o espaço. Nessa mudança de olhar, da forma estática da escultura para trabalhos que se movimentam, Jonas cria suas obras através das traduções de um meio a outro: da escultura para a performance, do vídeo para a instalação, etc. O espelho, como também os outros meios de reflexão ou recorte da imagem – a água do lago, o monitor ligado a uma câmera ao vivo – são lugares em que a obra acontece. Assim como o papel e a parede são suportes para a criação de um universo que surge do ato de desenhar figuras, formas geométricas e o próprio contorno dos objetos em suas ações. O espaço, aparentemente, se dá internamente às imagens provocadas pelo uso variado de dispositivos e ferramentas. Essas imagens são, muitas vezes, totalizadoras, no sentido de que já não percebemos o entorno, exceto por sua reflexividade no interior do dispositivo ou do suporte. Com o intuito de discutir as problemáticas do espaço especular e videográfico nesta comunicação, faremos referência a três momentos da obra da artista. O primeiro é composto por trabalhos como Mirror Pieces (1969) e Jones Beach Piece (1970), que dizem respeito às experimentações da artista com o espelho em lugares fechados e externos. No segundo, veremos a associação que a artista faz entre o espelho e o vídeo a partir da aquisição de sua primeira câmera portapak em obras como Wind (1968) e Organic Honey´s Visual Telepathy (1972). Por fim, faremos alusão às performances com instalações audiovisuais, como Lines in the sand (2002), The Shape, the Scent, the Feel of Things (2004) e Reanimation (2010-2012). Para Joan Jonas, o espelho é um objeto de transformação abstrata do espaço, pois quando manuseado pela artista, é capaz de produzir um devir da imagem. Não imprime uma estaticidade e tampouco uma forma final, não gera permanência, é cambiante em sua efemeridade. O espelho desenvolve uma relação com o tempo, criando uma paisagem sem limites. Os diversos usos do vídeo na obra de Jonas acabam por ter função similar à do espelho. A obra em circuito fechado expressa um deslocamento entre o posicionamento da tela de videoprojeção e a captação da imagem da cena pela câmera. Diversas linhas e diagonais imaginárias se cruzam no local da performance, já que o ângulo do enquadramento da objetiva dificilmente representa o ponto de vista do espectador. Quando a câmera filma o próprio monitor e o espaço entre essas telas, vê-se uma infinidade de imagens que tem efeito parecido ao de um espelho diante do outro. Quando a projeção exibe um vídeo de outro espaço-tempo, somos mais uma vez transportados para o exterior da sala e outra janela se abre. |
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Bibliografia | ALBARRÁN, Juan; ESTELLA, Iñaki (eds). Llámalo performance: historia, disciplina y recepción. Madrid: Brumaria, 2015. |