ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | A direção de arte de inferninho: a potência estética do artifício. |
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Autor | Iomana Rocha de Araújo Silva |
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Resumo Expandido | Inferninho (Guto Parente e Pedro Diógenes, 2018) é um filme que se constrói a partir da personagem de Deusimar, dona do bar, que vive uma paixão arrebatadora com a chegada inesperada do marinheiro Jarbas, que também desperta os desejos de Luizianne, cantora do bar, gerando um conflito de ciúmes melodramático. Outras ameaças surgem quando representantes do governo aparecem querendo desapropriar o bar para construir um complexo de entretenimento no terreno, paralelamente outros marinheiros perseguem Jarbas por conta do dinheiro de um golpe. Dentro desse espaço cênico de inferninho Deusimar assume uma função de controle sobre os demais personagens, seres que dentro daquele local se sentem acolhidos, eles vivem numa relação de extremos, discordando e odiando em vários momentos, mas existindo amor e afeto. A especulação imobiliária e a crise financeira reiteram a alegoria do refúgio e o perigo iminente que grupos não normativos passam frente ao fascismo que grita do “lado de fora”. Observarei neste filme os elementos visuais próprios da direção de arte (cenários, figurinos, cores, formas, texturas, etc), defendendo que a proposta estética desse filme gera uma potência visual sensível e política. Os cenários de inferninho são artificiais, teatrais, e ao mesmo tempo alegóricos. Representam um universo paralelo que serve de refúgio para um grupo de seres que se unem naquele espaço como resistência, vivenciando seus conflitos cotidianos. Estes cenários possuem marcas de precariedade, que colaboram diretamente para a criação de uma densidade de significados sensíveis. Observamos uma cenografia sem muitos excessos, pensada para fazer gritar os personagens, estes sim excessivos, com fortes marcas do camp e do kitsh (a cantora romântica, um coelho cor-de-rosa que é garçom, uma segurança que atende pelo nome de Caixa-Preta, um tecladista de cabelos brancos chamado Richard, além da figuração extravagante). Da mesma forma, os figurinos se mostram de forma precária, trazendo para os personagens uma força dramática e igualmente alegórica. Observa-se também neste filme um interessante embate entre o ambiente interno e o ambiente externo, entre o real e o artifício. O mundo externo a inferninho é sempre apresentado de forma extra quadro e hostil, nunca saímos do ambiente de estúdio. Todavia, existe um momento em que Deusimar “viaja” pelo mundo. Esta sequência se desenrola de forma criativa por meio do recurso de back projections. Neste momento, o mundo “real” é apresentado como projeções, problematizando as instâncias do real e do artifício. Esses recursos estéticos gambiarrísticos são assumidos no filme como potência sensível, assume a precariedade de meios como força criativa. A precariedade traz para a imagem e para a fruição fílmica uma criatividade estética e ao mesmo tempo um posicionamento de resistência política do diretor e sua equipe de arte. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas: Papirus, 2008. |