ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Vídeo-ensaio: quando a Mise en Scène investiga a si mesma |
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Autor | LUIZ GUSTAVO VILELA TEIXEIRA |
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Resumo Expandido | A crítica cinematográfica enfrenta usualmente um problema fundante: usa texto para discutir imagens (em oposição a, por exemplo, a crítica literária, sua influência mais direta, que usa palavras para discutir palavras). Casos de crítica audiovisual usando a linguagem do audiovisual, ao longo do Século XX, são conhecidos e notórios, como Histoire (s) du cinéma (1988 - 2004), de Jean-Luc Godard, ou Uma Viagem Pessoal Pelo Cinema Americano (1995), de Martin Scorsese. Todavia, a popularização das tecnologias de edição e distribuição de vídeo (i.e.: YouTube, Vimeo, etc.) tornou possível que cinéfilos do mundo todo, e não apenas cineastas com carreiras consolidadas, pudessem fazer investigações cinematográficas particulares. O resultado se popularizou com o nome de Vídeo-ensaio. O Vídeo-ensaio é, fundamentalmente, a rearticulação de obras audiovisuais com objetivos que irão se posicionar em um espectro que vai do poético ao didático. Não raramente ambos. Essa rearticulação se dá, geralmente, através da montagem, em que, por exemplo, recorrências visuais da obra de um diretor são isoladas e colocadas em conjunto, revelando seu estilo (BORDWELL, 2013). Em outros casos, cenas de dois cineastas diferentes são colocadas lado a lado e comparadas, apresentando influências ou ecos culturais. De qualquer maneira, é a mise en scène (OLIVEIRA JR., 2013), quase nunca adulterada pelas possibilidades tecnológicas da manipulação digital, que empreende uma investigação de si mesma. Quase como destino manifesto, essa meta mise en scène cumpre com a conceituação teórica que envolve tanto as noções de vídeo quanto de ensaio que estão no nome que essas pequenas obras receberam pela mídia anglófona (Vídeo-essay). Ambos articulam formas de pensamento, segundo seus autores relevantes. O vídeo, segundo Dubois (2018), refletindo justamente sobre o trabalho de Goddard, se articula como uma forma de pensamento, de colocar o cinema em perspectiva crítica. O ensaio, como lembra Corrigan (2015), desde sua forma textual em Montaigne, também é uma forma de pensamento que emerge do encontro entre uma ideia de “eu” e o mundo. A proposta desta comunicação é empreender a investigação de como o Vídeo-ensaio articula essas formas de pensamento usando a linguagem audiovisual. Neste caso em específico, a montagem. Para isso parto tanto dos trabalhos dos já citados Dubois e Corrigan sobre Vídeo e Ensaio, bem como o de Arlindo Machado (2006) sobre Filme-ensaio, em articulação com o até agora apresentado pelas pesquisas de Catherine Grant (2017) sobre o tema. A noção de mise en scène se coloca como norte, já que o cotejo das cenas através da montagem apresenta mais possibilidades de sentido que a simples demonstração educativa, como já aparecia no trabalho de Godard. Como objeto, analiso dois Vídeos-ensaios, completamente diferentes em suas propostas. O primeiro é KUBRICK / TARKOVSKY, que coloca cenas dos dois cineastas lado a lado e encontra rimas visuais. O formalismo estóico de Stanley Kubrick iluminando a religiosidade transcendental de Andrei Tarkovsky. O segundo é Satoshi Kon - Editing Space & Time, sobre o trabalho do influente diretor japonês, presente no canal dedicado a Vídeos-ensaios Every Frame a Painting, ele próprio influente em relação a outros produtores deste subgênero. O primeiro com intenção voltado para o poético, enquanto o segundo com ambições didáticas. Ambos, porém, usam a montagem como uma linguagem crítica, adequada para escrutinar as obras apresentadas. Diante deste recorte, e munido da conceituação teórica, será possível compreender como as técnicas de montagem dos vídeo-ensaístas articulam formas de pensamento própria, gerando suplementos de significado ulteriores aos das obras originais, por possibilitar encontros imagéticos que explodem em sentido. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. Sobre a História do Estilo Cinematográfico. Campinas: Editora Unicamp, 2013. |