ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | A figura do inimigo na produção audiovisual do Ocupe Estelita |
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Autor | Cristina Teixeira Vieira de Melo |
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Resumo Expandido | No domingo 31 de março de 2019 foi derrubada a última parede dos armazéns do Cais José Estelita, no Centro do Recife. A área é foco de disputa desde 2012, quando um consórcio de empreiteiras lançou o Projeto Novo Recife prevendo a construção de 13 torres de até 38 andares no local. Desde essa época, o terreno é alvo de inúmeras ações jurídicas, manifestações e ocupações que ganharam projeção local, nacional e internacional. Em disputa, duas concepções de cidade: de um lado, a cidade neoliberal da especulação imobiliária e dos condomínios privados de luxo; do outro, um desejo de cidade com moradia para os que não têm, praças, parques equipamentos culturais e comércio voltado para a população. No meio dessa disputa, o audiovisual cumpriu (e ainda cumpre) papel importante. Uma evidência disso é o levantamento feito em 2015 pelo Movimento Ocupe Estelita que conseguiu mapear mais de 90 produções audiovisuais relacionadas à luta pelo direito à cidade. Além disso, o Movimento Ocupe Estelita tem sido foi alvo de inúmeras pesquisas no campo das ciências sociais, incluindo o audiovisual. Uma pesquisa no Google Acadêmico aponta mais de 500 trabalhos sobre o Movimento. Eu mesma apresentei na Socine de 2015 um texto a respeito (“Cinema militante, a experiência do #OcupeEstelita). A ideia do presente trabalho é voltar à produção audiovisual do Ocupe Estelita a fim de averiguar como na materialidade mesma da linguagem, ou seja, na sua dimensão estética, se construiu a figura do inimigo político. De que forma foi tratada essa alteridade? Como o discurso adversário foi inscrito no interior dos registros audiovisuais produzidos pelo Movimento? As imagens foram capazes de criar um espaço de diálogo com o discurso opositor ou serviram apenas ao aniquilamento desse outro? Foi possível criar um espaço de diálogo com o discurso oponente sem trapacear, sem rebaixá-lo a uma caricatura? Foi possível fugir ao discurso dogmático e panfletário que rebaixa não só o adversário, mas também o lugar do espectador? Enfim, busca-se investigar se em contextos de confronto político em que o sujeito opositor atua a partir de princípios anti-democráticos, é possível resguardar ao inimigo um tratamento ético? Para fazer essa análise nos apoiamos em estudos clássicos e contemporâneos sobre cinema militante bem como em pesquisas que discutem a ideia da representação do inimigo/adversário no campo da política. |
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Bibliografia | BRENEZ, Nicole. & MARIONE, Isabel. Cinémas libertaires: au service des forces de transgression et de révolte. Paris: Septentrion, 2015. |