ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Palito Ortega Matute e as representações do trauma em La Casa Rosada |
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Autor | Carla Daniela Rabelo Rodrigues |
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Resumo Expandido | O trabalho discute memória e as representações do conflito armado interno vivido no Peru na década de 80 por meio de La Casa Rosada (2017), último filme do antropólogo e cineasta ayacuchano Palito Ortega Matute, falecido em fevereiro de 2018. Parte-se do diagnóstico dos “esquecimentos” e silenciamentos cinematográficos sobre o papel do Estado peruano nos governos de Alan Garcia e Alberto Fujimori, por meio das Forças Armadas, enquanto agente de violações aos direitos humanos (torturas, assassinatos e omissões) quando comparado ao estereótipo de terrorismo atribuído somente ao grupo de esquerda Sendero Luminoso. Diante dessa demarcação estética, o cineasta Palito Ortega Matute destaca-se como a principal referência em questionar tal memória audiovisual por meio de seus filmes: Dios tarda pero no olvida (1997), Dios tarda pero no olvida 2 (1998), Sangre inocente (2000), El rincón de los inocentes (2007) e La casa rosada (2017). Também produziu filmes de horror como Incesto en los Andes: La maldición de los jarjachas (2002), La maldición de los jarjachas 2 (2003), e El demonio de los Andes (2014), e em El Pecado (2007) tratou da discriminação à população LGBT nos Andes peruanos. O diretor e roteirista é o mais conhecido do Cine Regional, movimento cinematográfico iniciado por ele e outros cineastas na década de 90 e que já produziu aproximadamente 200 longas-metragens e vários curtas-metragens, transformando o que se entendia como cinema peruano em geral (BUSTAMANTE, 2018). La Casa Rosada é um filme cujo nome faz referência ao centro de torturas em Huamanga no qual o próprio realizador foi preso durante trinta dias injustamente aos 17 anos confundido como “terrorista”. Com base melodramática, ele convida, ou melhor, convoca o espectador a não sair ileso da narrativa intensa que sem retirar responsabilidades, apresenta novos elementos desde a ótica de quem viu e viveu o conflito armado no estado de Ayacucho. A fotografia e a direção de arte do filme são resultados dessa experiência quando contrastam uma cidade permeada por uma paisagem natural da serra (montanhas, céu azul, construções antigas) e essa mesma cidade arrasada, manchada de sangue, com casas reviradas, objetos quebrados, roupas rasgadas, entre tantos outros detalhes expressos nos objetos cênicos e nos closes e planos detalhe. O desenho sonoro evoca uma dramaturgia do horror ocupada por gritos, gemidos, falas e súplicas em espanhol e quechua, ruídos angustiantes de objetos e músicas que reforçam o melodrama. O roteiro, embora sem grandes pretensões estilístico-narrativas, se arrisca em recuperar vorazmente elementos sombrios presentes na história peruana. Por isso, o filme gerou reações diversas como a associação do diretor como especialista em filmes de terrorismo, ou classificações do filme como “pro-terruco” (pró-terrorista). Neste trabalho, observa-se também que o filme reavivou as recentes discussões sobre os diferentes projetos de Ley de Cine onde um deles (Proyecto de Ley sobre Cine Peruano N°2987/2017-CR), apresentado pela congressista fujimorista María Cristina Melgarejo Paucar, defende no artigo 9 do capítulo III que nos editais do Ministério de Cultura del Perú (MINCUL) seja vedada a participação de produções audiovisuais que recorram a “apología del terrorismo”, uma evidente medida conservadora e censora. |
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Bibliografia | BARROW, Sarah. Contemporary Peruvian cinema: history, identity and violence on screen. Bloomsbury Publishing, 2018. |