ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Estratégias de Produção e Pós-produção de som em Baby Driver |
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Autor | Fabrizio Di Sarno |
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Resumo Expandido | No filme Baby Driver (Em Ritmo de Fuga, Edgar Wright, 2017) podemos notar diversos elementos característicos do gênero musical. A maneira como a trilha musical transita pelo contexto interno e externo do filme, ou para utilizar as palavras de Chion (2011), o modo como a música se torna diegética e extra-diegética, por vezes simultaneamente, nos remete a um atributo comum nos filmes do gênero. A proposta do filme, contudo, não é tornar a trilha musical um elemento de desenvolvimento narrativo como em muitos outros musicais. Aqui, as canções se transformam em um elemento comentador poético que transmite os sentimentos do personagem e os afetos transmitidos pela cena. Excetuando-se os raros momentos em que a música incidental extra-diegética, de caráter puramente instrumental, entra em cena, o que temos na maior parte do tempo é uma trilha musical constituída pelo amplo uso de canções populares pré-existentes, quase sempre advindas dos fones de ouvido utilizados pelo protagonista. O caráter estritamente diegético das canções é extrapolado na maior parte do tempo, e os demais elementos sonoros e imagéticos que compõem a linguagem audiovisual das cenas são inteiramente submetidos ao seu ritmo e ao seu desenvolvimento harmônico-melódico. A panoramização realizada na mixagem do filme não se eximi de manter evidente, sempre que possível, a fonte primordial das canções, ou seja, o onipresente Ipod de Baby. Quando o protagonista tira um dos fones de ouvido temos uma redução considerável do volume da trilha musical naquele lado do panorama estereofônico coincidindo com o ouvido de Baby, mesmo que ele esteja sendo filmado de frente, ressaltando o ponto de escuta subjetivo da trilha musical, em contraste com o ponto de vista objetivo da imagem. Outro elemento sonoro mixado desta forma é o zumbido de alta frequência que Baby ouve constantemente como resultado de um acidente de carro na infância. O incômodo som agudo é puramente diegético, mas pode transitar entre um dos lados das caixas esquerda ou direita, ou ocupar todo o panorama estereofônico em alguns poucos momentos em que Baby não está de fone ou escutando música no carro, na sua vitrola ou nos ambientes em que se encontra. A maior parte das canções se articulam de maneira empática com os sentimentos do protagonista, visto que elas são parte da tracklist inserida em seu Ipod, utilizada para animar as suas fugas em alta velocidade e os demais acontecimentos da sua vida. Entretanto, há momentos em que a trilha musical se torna anempática, pois ao contrário do que ocorre com a trilha musical, Baby não tem poder sobre as contingências que se desdobram a partir dos assaltos que auxilia. O filme frequentemente utiliza efeitos sonoros hiper-realistas para enfatizar os sentimentos do protagonista. Um pequeno carrinho de brinquedo caindo pode conter um volume exacerbado devido ao seu impacto emocional em Baby. O volume do background sonoro de carros em velocidade, presente mesmo em cenas internas, é outro elemento sonoro de ênfase emocional. “O principal objetivo do cinema é retratar as emoções” (MUNSTENBERG, 1983, p.46). Em Baby Driver, as técnicas de produção e pós-produção de som têm como principal função retratar as emoções do personagem principal, deixando, por diversas ocasiões, os efeitos de realismo sonoro em segundo plano. A panoramização dinâmica da mixagem, os efeitos diegéticos e extra-diegéticos da trilha musical, a alternância dos pontos de escuta, a empatia e anempatia das canções, os efeitos sonoros hiper-realistas e o emprego constante do background sonoro são alguns dos procedimentos tecno-expressivos empregados com esta finalidade. Este trabalho demonstra alguns destes procedimentos à luz do pensamento de autores sobre o cinema como Michel Chion, Claudia Gorbman e Hugo Munstenberg. |
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Bibliografia | ALTMAN, Rick (org.). Sound theory – Sound practice. New York: Routledge, 1992. |