ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | As autoritárias ondas na educação e a possiblidade de transformação |
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Autor | ANA LUCIA DE ALMEIDA SOUTTO MAYOR |
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Coautor | Isabela Cabral Félix de Sousa |
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Resumo Expandido | O filme “A onda” apresenta duas versões para o cinema (1981 e 2008) e sua atualidade e relevância sustentam-se, sobremaneira, nos tempos em que vivemos. A narrativa é baseada em fatos reais, em que um professor nos Estados Unidos trabalha a autocracia com alunos do Ensino Médio no final dos anos 60 do século passado, época de muitos questionamentos das desigualdades sociais. A versão de 2008, escolhida por nós, retrata o professor, inicialmente, sem autonomia, sendo obrigado a ensinar a disciplina autocracia e não o anarquismo, a disciplina de sua preferência. Assim, o docente, também objeto da arbitrariedade, posteriormente parece submeter seus alunos e isto nos remete às reflexões de Paulo Freire (1987), segundo as quais o oprimido passa a ser opressor. No começo do filme, este professor não revela aos seus alunos que está fazendo um experimento e a maioria dos educandos se engaja cegamente nessa proposta. Nesse sentido, é interessante observar como o personagem-docente do filme visualiza a sala de aula como um “laboratório”, no qual seus alunos, como “cobaias”, serão testados à luz de suas “hipóteses” científicas. Como aponta Bachelard (1996), "é justamente esse sentido do problema que caracteriza o verdadeiro espírito científico. Para o espírito científico, todo conhecimento é reposta a uma pergunta. Se não há pergunta, não pode haver conhecimento científico. Nada é evidente. Nada é gratuito. Tudo é construído.” (BACHELARD, 1996, p.18) Na análise deste filme, o comportamentalismo é uma das teorias educacionais que podemos recorrer para iluminar o papel manipulador que pode exercer um professor na sua sala de aula, pois o mesmo exerce poder evocando três tipos de forças: pela comunidade, pela ação e pela disciplina. Se sempre podemos questionar a ética deste poder de um professor, podemos repensar como este poder pode também ser colocado em favor dos oprimidos, os alunos (CUNHA, 2000). Neste filme, também são enfatizadas as parcerias que o professor tem com sua companheira e que um aluno tem com sua namorada. A educação pode ser transformadora, como nos ensina Paulo Freire (1986). Na narrativa fílmica, através do afeto de seus respectivos companheiros, tanto professor como aluno conseguem se dar conta da cegueira e exercer uma crítica saudável da situação que todos que estão vivenciando, isto é, o experimento de participar do grupo “A onda”. Pensar a linguagem cinematográfica como potência do pensamento implica ampliar as possibilidades de inclusão da textualidade fílmica em contextos formativos, tanto em espaços de educação formal como não formal. Como sublinham Deleuze e Guattari, "o pensamento não é um privilégio da filosofia: filósofos, cientistas, artistas são antes de tudo pensadores." (DELEUZE e GUATTARI apud MACHADO, 2009, p.13). Do ponto de vista metodológico, a análise do filme será realizada por meio da leitura de fragmentos, segundo as contribuições de Alain Bergala (2008), segundo a qual em que o autor indica a leitura de "fragmentos fílmicos", de modo a introduzir os estudantes na discussão de aspectos estéticos e temáticos das narrativas analisadas. “A Onda” suscita muitas possibilidades de debates também interessantes no que toca tanto ao papel modelo do professor como a pressão do grupo social. De todo modo, as autoritárias ondas na educação e a possiblidade de transformação são de particular relevância na adolescência, período crucial na formação de identidades, discussão das mais urgentes e relevantes nos dias atuais. |
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Bibliografia | BACHELARD, Gaston. (1996) A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. |