ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Vereda da Salvação: Estética e Política no Brasil da década de 1960 |
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Autor | Lucas dos Reis Tiago Pereira |
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Resumo Expandido | O tema de comunicação proposto visa analisar estética e politicamente o filme Vereda da Salvação (1965), dirigido por Anselmo Duarte. Objetiva-se entender o porquê de Vereda da Salvação ser esquecido na historiografia do cinema brasileiro, tendo em vista que as análises a respeito do filme são escassas em grande parte da bibliografia que tem como escopo a cinematografia nacional. Para tal empreitada, pretende-se utilizar conceitos importantes para a crítica de arte no Brasil na década de 1960, especialmente o conceito de Nacional-Popular, formulado pelo filósofo marxista Antonio Gramsci e bastante influente entre a intelectualidade brasileira. Segundo o autor, era necessário conduzir a classe subalterna para um desejo coletivo de “consciência atuante da necessidade histórica, como protagonista de um drama histórico real e efetivo” (GRAMSCI, 1978, p. 9) e diversos artistas no país entendiam a necessidade de formar essa consciência ao povo, por meio de uma arte Nacional-Popular. Especialmente o grupo de cineastas conhecidos pelo movimento Cinema Novo se aproximaram fortemente desses ideais. Vereda da Salvação não estava entre os filmes cinemanovistas apesar de dialogar com o conceito de Nacional-Popular e a história do cinema brasileiro o descartou das discussões acerca do tema. Considera-se relevante, então, questionar propostas historiográficas que centralizam o Cinema Novo como o que tem de mais importante no cinema brasileiro da década de 1960. “Apesar de exceções marcantes, como é o caso de (Walter Hugo) Khouri, o plano geral do cinema brasileiro na década de 1960 é a história do cinema novo e suas evoluções” (RAMOS, 1987, p.393). O livro Nova História do Cinema Brasileiro publicado em 2018, atualização do trabalho de 1987, Ramos não faz uma afirmação tão categórica, entretanto, as ideias ainda são as mesmas, pois os dois capítulos dedicados ao cinema brasileiro da década de 1960 sequer citam Vereda da Salvação e, mesmo Anselmo Duarte, é pouco abordado, como se fosse um cineasta desimportante no período. O trabalho a ser apresentado entende que o cinema de Anselmo Duarte não se distancia tanto do Cinema Novo, como de outros diretores da década de 1960, por exemplo, Carlos Hugo Christensen, Ody Fraga ou Carlos Coimbra. Anselmo Duarte dividiu conceitos temáticos e estéticos com os diretores cinemanovistas, especialmente em Vereda da Salvação, seu filme mais próximo do movimento, mesmo que seu cinema não tendo se fixado na memória social do cinema brasileiro. A comunicação visa, também, identificar as diferenças de Anselmo Duarte com o movimento cinemanovista. Primeiro, a associação de Vereda da Salvação com o melodrama, a partir de um gene matricial do cinema de estúdio no Brasil. Mesmo que, na década de 1960, os estúdios já estivessem em franca decadência. Pretendemos, portanto, demonstrar como Vereda da Salvação, se situou entre uma matriz do cinema clássico e uma matriz do cinema moderno ao se aproximar de discussões efervescentes sobre o povo brasileiro em “um período onde artistas e intelectuais de esquerda consolidavam uma relativa hegemonia no campo cultural brasileiro” (SCHWARZ, 1992, p.79). Pretendemos também, destacar a concepção de ‘Romantismo Revolucionário” cunhado pelo pesquisador Marcelo Ridenti que se dedica ao processo cultural brasileiro na década de 1960. Em seu livro Em Busca do Povo Brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV, o autor demonstra como o conceito se associa com a utopia pela transformação do mundo pela ação humana e, como essa ideia fora significativa para uma valorização de obras específicas da década de 1960, em um momento de consonância entre a classe artística engajada e o contexto político-social. Vereda da Salvação se distancia do modelo proposto por Ridenti, ao assumir uma visão pessimista a respeito do povo sertanejo, em um momento em que a ditadura civil-militar se instalava no país. |
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Bibliografia | BAZIN, André. O que é o cinema? São Paulo:Cosac Naify,2014. |