ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Sexo e Política - os corpos que falam em O Império do Desejo |
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Autor | RODRIGO AUGUSTO FERREIRA DE MORAES |
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Resumo Expandido | Em 1981, Carlos Reichenbach realiza sua segunda pornochanchada como diretor, O Império do Desejo, em mais uma parceria com produtor da boca do lixo, Antonio Polo Galante. Parte integrante da pesquisa de mestrado concluída em 2019 no PPGCOM da UFRJ, esse trabalho consiste em investigar a tipologia por detrás da construção de personagens proposta pelo diretor, bem como avaliar de que maneira o trabalho de mise-en-scène corrobora um posicionamento político de Reichenbach, utilizando o corpo como forma de expressão de um pensamento político. Após o falecimento do marido, Sandra (Meyre Vieira) vai ao litoral paulista para reaver uma casa que pertencera a seu falecido esposo, e com a ajuda de um advogado local, Dr. Carvalho (Benjamin Cattan), ela recupera a casa que era ocupada por grileiros e acaba por contratar um casal de hippies como caseiros. Nick (Roberto Miranda) e Lucinha (Márcia Fraga) são o casal libertário da trama e compete a eles o posicionamento político libertário que o diretor procura colocar em embate com os valores conservadores da sociedade, simbolizados pelos outros personagens. Em um primeiro momento a exposição se pautará, pela análise dos diferentes tipos de personagens no filme, seu posicionamento na trama, e como essas “construções” afetam o desenrolar da narrativa. Sandra é a proprietária, e é apresentada como uma mistura paradoxal entre conservadorismo e seu lado generoso, porém é a burguesa ensinada a dar ordens aos seus empregados. Dr. Carvalho é a personificação do patriarcado na sociedade, logo toda a sua atuação remete aos códigos moralistas, que representam a elite conservadora do país. Nick e Lucinha são o casal libertário, e sua mise-em-scène funciona no sentido de estabelecer que os corpos não tenham uma função mercadológica de troca, embora sejam testados em suas convicções. Finalmente Di Branco é o profeta antropofágico que propõe a quebra de todo o modelo vigente e expurga da praia toda a sorte de indivíduos abjetos. É importante frisar que as construções de personagens proposta por Reichenbach, se dão por meio de alegorias (XAVIER, 1993), e por essa razão toda a trama tem nesse conceito, seus pontos centrais. Em um segundo momento a apresentação vai se debruçar sobre as estratégias utilizadas pelo diretor nas cenas de sexo do longa-metragem, e investigar como elas afastam o filme de uma pornochanchada tradicional e aproximam a narrativa de uma comédia erótico-dramática. Utilizando um conceito conhecido de Bertholt Brecht, o teatro épico (1992), no qual o dramaturgo alemão propõe a quebra da quarta parede nas peças teatrais, Reichenbach utiliza o anti-ilusionismo como forma de linguagem em sua obra, Dessa maneira, os personagens muitas vezes olham diretamente para a câmera enquanto recitam frases políticas e filosóficas. Esse recurso também pode ser descrito como intertextualidade (STAM, 1992), e o distanciamento acaba por ressignificar a trama, ao elencar outras camadas de interpretação. Logo, o sexo que ocorre na tela acaba por ter sua função narrativa alterada, deixando de ser um simples espetáculo voyerístico, para converter-se em debate político acerca do feminismo, da filosofia e do momento histórico pelo qual o país passava naquele período. Por fim essa exposição pretende debater como Reichenbach faz uso das teorias políticas como forma de atuação dos seus personagens, convertendo a narrativa em um verdadeiro manifesto político-antropológico. Se cada personagem representa um ser social, quais a teorias políticas estão por trás de cada discurso. A meritocracia e o Estado de Direito em Carvalho,o anarquismo de Proudhon em Nick, as teorias hippies e libertárias em Lucinha, a burguesia alienada em Sandra, e o antopofagismo de Oswald Andrade em Di Branco. Como o diretor corporifica essas posições políticas em seus personagens e dessa maneira produz um discurso libertário, ainda que com características irônicas é o que deve ser afirmado ou não ao final da apresentação. |
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Bibliografia | AGAMBEN, Giorgio. Notas Sobre o Gesto. Ouro Preto: Artefilosofia, 2008. |