ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Tão longe é aqui: Autoficção e a desconstrução dos universos femininos |
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Autor | maria henriqueta creidy satt |
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Resumo Expandido | Por um período dos anos 2000, Eliza Capai viajou pelo mundo fazendo documentários e reportagens sobre o universo feminino. América Central, África e Brasil desenham os territórios que a diretora perambulou e filmou sozinha, com uma câmera e um gravador, conversando com mulheres sobre suas “vidas vividas” (BUTLER, 2011), a partir de diferentes perspectivas. Desta série, o road movie “Tão longe é aqui” é o resultado de uma viagem pelo continente africano, onde Eliza recolhe imagens, sons, encontros com mulheres e acontecimentos que se desenrolam em frente a sua câmera. O documentário se agrega ao repertório de ensaios cinematográficos de autoria feminina brasileiros do século XXI, bem como dialoga com uma tradição de narrativas epistolares, de viagens e diários que transbordam nas produções audiovisuais contemporâneas. Comum aos ensaios de viagem, o centro narrativo está não somente nas novidades dos espaços desbravados, mas, antes, no percurso interior da realizadora que “descobre outro eu no processo de pensar novos e velhos ambientes e pensar o eu em um ambiente diferente” (CORRIGAN, 2015), seguindo a lógica benjaminiana de que se viaja para descobrir a própria geografia (BENJAMIN,1994) . Num primeiro momento, o filme carta destinado a sua filha é o artifício para organizar as memórias da viagem, “interrogar sua própria vida, se debruçar sobre sua arqueologia íntima” (ARFUCH, 2010) e expressar suas experiências e transformações internas. A narração em tom intimista, afetivo e lacunar conduz a narrativa, apresenta e contextualiza as entrevistas que Eliza vai fazendo ao longo do caminho, inventa estórias bifurcando a linearidade do relato, cria um canal para falar sobre suas sensações em relação ao mundo que desbrava e dialoga, sempre “interrogando as imagens que mostra” (LINS, 20017). A esfera visual é contaminada por esta mesma sensibilidade ensaística, poética e política da voz e revela muito sobre os encontros da diretora com suas personagens, sua forma direta e sem preparativos prévios de conversar; conversas, muitas vezes, reticentes e de estranhamento mútuo da língua, da pele, da cor, das roupas. Sensações que chegam a nós pela estética de captação e montagem que pontua o percurso narrativo com planos fixos, longos e muitas vezes silenciosos das personagens e de tantas outras mulheres desconhecidas, de todas as idades, que olham frontalmente para a câmera, sozinhas ou em grupo. Planos de duração que invadem também paisagens e situações cotidianas. A figura da filha, destinatária da carta, serve também para a realizadora-personagem se vislumbrar inserida naquele espaço, de se colocar no lugar daquelas mulheres que vivem uma realidade diferente da sua . Uma forma de “familiarizar o estranho” e, principalmente, subvertê-lo a favor delas. Este gesto inventivo esgarça ainda mais as bordas do ensaio documental e encontra Jean Rouch, não por acaso também filmando na África sozinho, precursor de elevar a fabulação, o imaginário e o delírio a um estatuto de documento. Já a diretora-personagem será confrontada, questionada e transformada por algumas de suas interlocutoras sobre seu desejo de sororidade – apontado como - etnocêntrico, assim como sobre a impossibilidade de se colocar em um lugar de fala que não é o seu. Assim, o objetivo desta comunicação é perceber nessas narrativas de si, as diferentes personas que a diretora-personagem se inventa na “deriva entre dois corpos, um eu privado e um eu público” (CORRIGAN, 2015) para colocar em cena suas confissões, delírios, desejos e embates acerca do feminino e dos feminismos– dos seu próprios e os de suas personagens. Autoficções, segundo a concepção de Klinger em seu diálogo com Butler, que forjam, graças ao documentário e por conta dele, “uma construção onde não existe original e cópia, apenas construção simultânea” do eu-autor no filme e na vida. (KLINGER, 2008). |
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Bibliografia | ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010. |