ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | O cinema americano informará: a recepção antropofágica de Hollywood |
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Autor | Anderson Luis Ribeiro Moreira |
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Resumo Expandido | Esse artigo quer apresentar algumas reflexões promovidas pelo modernismo antropofágico brasileiro sobre o cinema, em especial por Oswald de Andrade na Revista de Antropofagia e suas conexões com o cinema clássico-narrativo norte-americano. Para isso, nos filiamos à proposta de reavaliar a conjunção entre o cinema e o modernismo, especialmente a partir do conceito de modernismo vernacular (HANSEN, 2009), segundo o qual o cinema clássico-narrativo hollywoodiano – aquele que foi visto e comentado pelos modernistas brasileiros – reflete as transformações sociais trazidas pela modernidade e se constitui como um vernáculo internacional. Ou, como diria o próprio Oswald: o cinema americano informará. A despeito da fortuna crítica considerável sobre a relação entre o cinema e o modernismo brasileiro, ainda persiste uma ideia de ausência de interesse, divórcio (PARANAGUÁ, 2014: p. 30) e descompasso (BRAGANÇA e REAL, 2014: p. 115) entre o modernismo brasileiro e o cinema. Essas noções se referem, geralmente, à produção de filmes, o que acaba por ocluir outras relações possíveis que pensam o cinema a partir de uma perspectiva mais abrangente, em particular de sua recepção. Por isso acreditamos na importância de explorar outras relações entre o modernismo brasileiro e o cinema, particularmente a partir da antropofagia oswaldiana. Segundo Miriam Hansen, a estética modernista não seria apenas aquela conectada à proposta da ruptura vanguardista, mas sim uma que articularia e mediaria a experiência da modernidade até mais que os próprios movimentos artísticos das vanguardas, já que ela incorporaria práticas culturais mais amplas de produção e consumo em massa. Ou seja, o foco que ela traz em sua abordagem nos ajuda a compreender o contexto do modernismo e da modernidade para além da lacuna na produção de filmes. Para Hansen, o vernáculo global da modernidade desenvolvido pelo cinema clássico norte-americano comportava visões múltiplas e muitas vezes até opostas, que possibilitavam uma miríade de apropriações pelos espectadores ao redor do globo. As dinâmicas provocadas por essa experiência funcionavam como uma matriz liberatória para os impulsos da modernidade, na medida em que suas existências públicas eram estendidas para além dos filmes em si (HANSEN, 2009: p. 253). Esse ponto de vista sobre a relação entre cinema e modernidade/modernismo é próxima daquela defendida por Oswald de Andrade na Revista de Antropofagia. Na revista, Oswald fala do “gozo romântico” que Rodolpho Valentino provocava nas mulheres, pensando nos variados contatos propiciados pela recepção em massa das imagens de Hollywood. Assim, Oswald coloca em jogo a espectatorialidade como multiplicadora das posses, dos sentidos, contra uma propriedade única e cristalizada do sentido baseada na autenticidade. E essa ideia é uma das bases do que ele chama de pedra de toque do direito antropofágico: a posse contra a propriedade. A partir dessas discussões, à guisa de conclusão, procuraremos também fazer alguns apontamentos preliminares sobre possíveis relações entre a visão oswaldiana do cinema de Hollywood, a ideia de um modernismo vernacular e a forma como o audiovisual brasileiro contemporâneo recebe e se apropria de suas imagens. O autor inglês Iain Robert Smith (2017) atualiza o termo de Hansen e fala de um pós-modernismo vernacular, numa época de trocas e negociações incessantes entre imagens ao redor do globo. Nesse sentido, será que poderíamos pensar na antropofagia ainda como uma força de transponibilidade, num cinema global em que as imagens proprietárias participam dos fluxos do capital com mais força que nunca? Pensando em fanfilmes produzidos pra internet e “filmes de arte” como Batguano (Tavinho Teixeira, 2014), entre outros, procuraremos investigar os usos intensivos das imagens proprietárias que perfazem nosso vernáculo cultural pós-moderno e de que formas elas mediam nossa experiência contemporânea. |
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Bibliografia | ANDRADE, O. Revista de Antropofagia. Reedição da Revista Literária Publicada em São Paulo – 1a e 2a dentições (fac-símile). São Paulo: CLY, 1976. |