ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Da adaptação a intratextualidade: o alter-ego de Woody Allen. |
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Autor | Alexandre Silva Wolf |
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Resumo Expandido | A prática do cinema contemporâneo estabelece a intertextualidade como um elemento dialógico que permite a construção de novos produtos cinematográficos. O uso do texto de um outro, na construção de filmes e roteiros, na busca de uma nova obra comunicacional, não pode ser entendido como mera repetição pois, a partir de novos contextos, esse novo texto acaba por se apresentar em diferentes significados. A intertextualidade tem por base o dialogismo de Bakthin, que entende que todo homem constrói sua linguagem a partir de diálogos de outro e com outro, determinando assim que para se construir um discurso leva-se em conta o discurso do outro que está inevitavelmente presente no seu também. Julia Kristeva, a partir do pensamento bakthiniano, estabeleceu que a intertextualidade acontece onde "o enunciado poético é um subconjunto de um conjunto maior que é o espaço dos textos aplicados em nossos conjuntos" (KRISTEVA, 1974, p. 174). Para Robert Stam, dentro da concepção do dialogismo e voltando-se para o fazer cinemático, "o artista cinematográfico torna-se um orquestrador, o amplificador das mensagens em circulação" (STAM, 2009, p.230), sejam estas séries literárias, visuais, musicais, cinematográficas, publicitárias ou outras de caráter comunicacional. Sendo assim, se estabelece a possibilidade do uso dessa ferramenta na praxis do cinema atual. Dentre os diretores cinematográficos contemporâneos, Woody Allen é conhecido por seus trabalhos que realizam diálogos com os mais diferentes objetos. Seus filmes podem ser derivados de adaptações, colagens e mesmo paródias, com base literária ou cinematográfica, dialogando diretamente com o autor da obra num relacionamento intertextual. O novo produto apresenta características semelhantes ao originário, muitas vezes óbvias, entretanto transformadas pelo talento e habilidade do cineasta. Uma outra característica de seu trabalho é a utilização de uma personagem, recorrente em várias de suas narrativas, que muitas vezes é entendido como seu alter-ego, na maioria das vezes vividas pelo próprio diretor em cena. Nos seus filmes iniciais essa personagem aparece e, durante toda sua filmografia podemos encontrá-la novamente porém transformada, com novas nuances e mesmo interpretada por outros atores. Essa característica da narrativa proposta por Allen pode ser entendida a partir do caráter intratextual, onde encontramos o diálogo do artista consigo mesmo. Harold Bloom entende esse diálogo entre textos quando estes se interpenetram e influenciam um ao outro em suas formulações estéticas, em seus significados, numa “Relação Intrapoética". Para ele “ poetas fortes quando enfrentam a tradição, quando enfrentam aos seus precursores ou antecessores, aos quais “roubam”, saqueiam, mas também transfiguram ou recriam” (BLOOM, 2002, p.128). Dessa forma, podemos estabelecer que é recorrente o uso de diálogos intertextuais e intratextuais de Allen no seu fazer cinematográfico. Analisando comparativamente três obras do cineasta e, colocando em foco a construção dessa personagem característica de sua narrativa, podemos encontrar elementos que evidenciam sua habilidade na construção de diversos diálogos textuais. Em seu filme Bananas (1971), adaptado a partir do romance de Richard Powell, "Dom Quixote Americano", Allen aprimora seu alter-ego, já presente em seu filme anterior, Um Assaltante bem Trapalhão (1969), num diálogo intertextual com a personagem principal do livro de Powell. Em Desconstruindo Harry (1997), seu alter-ego é multi-facetado, vivido pelo cineasta em cena e também por diversos atores, estabelecendo um diálogo intratextual. Em Meia Noite em Paris (2011) encontramos mais um diálogo intratextual que resume os diálogos anteriores, onde a personagem aparece representada por outro ator, mostrando que sua narratividade evolui dialogando com o outro e consigo mesmo, revisionando elementos e provando ser uma ferramenta de consolidação poética do cineasta. |
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Bibliografia | BLOOM, Harold. A angústia da influência: uma teoria da poesia. Trad. Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Imago, 2002. |