ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Hong Sang-soo e a volta do parafuso nos filmes de conversação |
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Autor | Alexandre Rafael Garcia |
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Resumo Expandido | Em 1965, Éric Rohmer afirmou, “O que eu gostaria de fazer é um cinema de câmera absolutamente invisível. Sempre é possível tornar a câmera menos visível”. O cineasta consolidou sua carreira a partir de então, apresentando um estilo que podemos chamar de “filmes de conversação”. Em 1977, o próprio diretor afirmou que “é verdade que todos os meus filmes são feitos de conversações”. A partir deste conceito, ao observarmos o cineasta sul-coreano Hong Sang-soo, nascido em 1960 e em plena atividade, percebemos várias intersecções entre os filmes dos dois realizadores. Não é difícil apontar Sang-soo como sendo o mais fiel discípulo de Rohmer, pelo volume do seu trabalho e os diálogos (estéticos, narrativos e paratextuais) travados entre os filmes. Sang-soo é o diretor que melhor se aproveitou do modelo de Rohmer, tanto para viabilizar suas obras economicamente como para analisar e filosofar a respeito do próprio estilo. Entre 1996 e 2019, Sang-soo lançou 31 longas-metragens. A princípio suas obras parecem todas iguais: personagens que geralmente trabalham com cinema ou com literatura se envolvem em tramas amorosas e ficam discutindo seus relacionamentos, quase sempre afetados pelo álcool. A sua originalidade vem da maneira de mostrar estas situações. Para esta análise, partimos de “A Câmera de Claire”, de 2017, o 29º longa-metragem de Sang-soo. O próprio título é um diálogo com o 4º longa-metragem de Rohmer, “O Joelho de Claire”, de 1970. Além das relações já apontadas entre os diretores e de algumas citações visuais (planos semelhantes), os dois filmes compartilham outras duas questões fundamentais: 1. Se passam no litoral francês. 2. Possuem uma personagem estrangeira (em relação aos demais personagens), que é quem irá chacoalhar a narrativa. No filme de Rohmer, é Aurora, romancista, que literalmente provoca o protagonista a tomar determinadas ações. No filme de Sang-soo, é Claire, a fotógrafa, que vai interligar todos personagens e quem irá questionar suas ações. Ou seja, em ambos os casos, essa estrangeira é o elemento catalizador. “O Joelho de Claire” é o filme mais autorreflexivo de Rohmer em termos narrativos. “A Câmera de Caire” é uma volta do parafuso nos filmes de conversação, porque Sang-soo parte desse modelo cinematográfico e abala suas características, promovendo um tipo de filme que ao mesmo tempo é simples em suas premissas (narrativas, estéticas e de produção), mas complexo em seus desdobramentos, em uma espécie de mise en abyme. Enquanto Rohmer evitava contraplanos, mas usava com parcimônia, Sang-soo evita mais ainda e quando vemos um plano que parece ser um contraplano, uma dúvida é colocada no ar: o que vimos é real dentro da narrativa? Porque, como os filmes de Sang-soo insistem em nos mostrar, a realidade dos acontecimentos não é absoluta. Rohmer dizia que pretendia um cinema transparente, onde o espectador não sentia a câmera. Já Sang-soo pontua a nossa presença como espectadores a todo momento, nos colocando como observadores das situações retratadas, mas também como construtores de uma narrativa que não nos é apresentada de maneira ordenada e clara. Fatos são omitidos, o tempo é confundindo, as intenções são obscuras. A câmera não está a serviço do olhar dos personagens e não é organizadora dos fatos, mas sim uma intrusa naquelas situações. Em “A Câmera de Claire” temos uma única imagem que é ponto de vista de um personagem: So Wansoo, o personagem que é diretor de cinema, vê uma foto de Manhee, Mas, como percebemos em uma cena a seguir, aquela foto vista por Wansoo talvez nunca tenha existido, porque quando Claire fotografa o evento mencionado, Manhee estava com outra roupa. Este é apenas um exemplo, muito eloquente, das confusões que Sang-soo vem operando. Nesta análise é apresentada a ideia de que os filmes de Hong Sang-soo evidenciam um gesto criador e reflexivo sobre o conceito de “filmes de conversação”, cunhado a partir da teoria do cineasta Éric Rohmer. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. A Teoria dos cineastas. Campinas, SP: Papirus, 2004. |