ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Nos anos 80, com jovens de punhos cerrados e erguidos: Alfaro Vive... |
|
Autor | denise tavares da silva |
|
Resumo Expandido | (Esta comunicação é dedicada a Tunico Amancio) A reescrita da história da América Latina implica sempre, e muito fortemente, amealhar os apagamentos promovidos pelas versões oficiais da história. Isto, porque ainda convivemos com uma travessia no tempo de raros momentos em que os denominados vencidos puderam emergir as suas versões dos fatos. Situação agravada agora quando os países que definem este continente refazem seu giro à direita, mantendo algumas esperanças de maior solidez democrática nas exceções da Bolívia e do México atual (para citar os mais evidentes). O que tem provocado, não sem uma dose de nostalgia, a latente necessidade da memória pautada pelo desejo da história redimensionada e recuperada. E o cinema, particularmente o documentário, tem abraçado este propósito, talvez já pressentindo, desde o final de 2010, que as contradições não enfrentadas no período democrático recente, pressionavam o cenário político, esgarçando a frágil estabilidade econômica e social dos países latino-americanos. Assim, se até há pouco o investimento no olhar fragmentado, na voz única, no testemunho das experiências singulares havia se imposto quase hegemônico (PIEDRAS, 2014; GODOY, 2013; TAVARES; 2013; 2011) aos poucos, nos parece, retomam-se as vozes corais que marcaram os primeiros anos pós-ditaduras, isto é, vozes que enfatizavam a perspectiva do encadeamento geracional e a percepção de elos em sintonia ao “ninguém solta a mão de ninguém”, que ecoou nas ruas tão agora. É claro que ainda é muito cedo para se definir tendências. O que se quer destacar aqui é que nas frestas democráticas construídas nos anos 2000, quando se colheu, de certo modo, os desdobramentos de um cenário de produção bastante alargado, tanto por novas políticas públicas quanto pelo desenvolvimento tecnológico que permitiu mais facilmente os projetos desenvolvidos sob o imperativo do “eu”, insinua-se, hoje, a necessidade da compreensão do que é possível perceber como ações que, a mais ou a menos, provocaram fissuras nos tempos duros, sombrios e violentos. Este é, em resumo, o “espírito” que guia esta comunicação cerzida pela sombra da revolta e melancolia (LÖWY, SAYRE, 2015), dístico que não soterra a celebração da resistência, como as encontramos em Alfaro Vive Carajo (2015) e Democracia em Preto e Branco (2014). Trata-se de duas obras que, em termos temáticos amplos, nada têm em comum. A primeira, dirigida por Maurício Samaniego (que participou durante um ano do movimento armado de esquerda Alfaro Vive Carajo, nos anos 1980, no Equador, até ser preso), tem como propósito trazer à tona a voz e narrativa de seus ex-companheiros que protagonizaram a resistência armada ao governo que sucedeu ao de Jaime Roldos, morto em acidente suspeito (ADDOR, 2016). Já Democracia em Preto e Branco, dirigido por Pedro Asbeg, vai celebrar uma outra comunhão, articulando um viés cultural pautado pelo futebol e o rock´n roll, com a campanha das “Diretas Já”, de 1983-84. O entrelaçamento adensa o filme sem que equilibre a potência das partes envolvidas. Pois, se é justo ressaltar o engajamento da população na campanha política e a participação do rock nacional na resistência, é a mística da Democracia Corintiana, representada, pelos jovens jogadores Sócrates, Wladimir e Casagrande, quem avulta. Afinal, desde a rebelião provocada por Afonsinho e sua conquista de passe livre nos anos 1970, o futebol não apresentava qualquer prenúncio de participação política no território da oposição ao governo. Por isso, os jovens punhos cerrados e erguidos nos campos de futebol reverberam uma simbologia calcada na disposição da luta. Algo que os dois documentários constelam, representando duas vertentes que não esgotam o cenário de oposição política, mas que expressam tanto o momento-país em que estavam inseridos, quanto as tentativas juvenis de protagonizar a história em embalagem sincrônica à utopia de construção de um continente latino-americano mais justo e menos desigual. |
|
Bibliografia | ADDOR, Felipe. Teoria Democrática e Poder Popular na América Latina. Florianópolis: Insular, 2016. |