ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Interseções entre Cinema e Pintura em Maria Antonieta de Sofia Coppola |
|
Autor | Laís Serra |
|
Resumo Expandido | No filme Maria Antonieta (2006) de Sofia Coppola identificamos práticas de interseção com outras linguagens artísticas, como a música, o videoclipe, e especialmente a pintura, a qual daremos enfoque neste trabalho. A cena de Maria Antonieta se faz em dialética com obras pictóricas, ocorrendo primordialmente em três formas: a pintura clássica dentro do espaço diegético enquanto elemento da cenografia; a pintura enquanto cena, quando o quadro fílmico incorpora a estética pictórica de uma obra canônica; e a reapropriação de uma pintura canônica conforme os moldes estéticos do universo fictício do filme em questão, este disposto, enquanto objeto cênico. Uma vez que o filme visa reiterar a figura da rainha francesa em um contexto contemporâneo, estas apropriações estéticas constituem uma forte estratégia de visualidade. Embora haja múltiplos artifícios que irão executar este anacronismo entre o século XVIII e a atualidade - como por exemplo a palheta cromática e o famoso "tênis all-star" no chão do palácio -, neste artigo, nos voltaremos para a relação entre o "quadro fílmico" e "quadro pictórico". Podemos perceber que pintura, uma imagem estética que auxiliou a conformar o imaginário da corte francesa e de Maria Antonieta, se transforma perante à reapropriação da mídia cinema, e conforma uma nova imagem e estética. Nesta interlocução entre as pinturas e a cena filmica, o próprio imaginário hibrido da cena artística comtemporânea se faz presente, e disponibiliza materiais para analises reflexivas de cunho teórico. Logo, bem como apontado por Edgar Morin, podemos dizer que "num certo sentido tudo gira em torno da imagem, porque a imagem não é apenas o entroncamento entre o real e o imaginário, é o ato constitutivo e simultâneo do real e do imaginário." (MORIN, 2014: 14). Pois entendemos então que nesta dinâmica entre essas "telas", as pinturas clássicas enquanto elemento da cenográfia corroboram para construir a atmosfera da cena e a subjetividade dos personagens diegéticos; as pinturas enquanto própria cena, tem a sua aura (BENJAMIN) impressa neste quadro cinematografico, hibridizando-se com o filme, e formulando uma nova esfera de sensibilidade para esta imagem; e, as pinturas que foram reapropriadas e exibem esta "nova imagem" da rainha Maria Antonieta - conforme a estética da ficção e com rosto da atriz Kirsten Dunst - representam justamente a relação do espaço nos quais estes quadros hibridos se introduzem. Ademais, nestas interseções os artíficos destes campos artísticos se vinculam e se misturam, como o uso da cor, a impressão de movimento, o estilo, os figurinos, a composição do quadro, dentre outros, possibilitando tensionamentos reflexivos sobre os novos modos de produção de uma imagem e seus efeitos. Michel Maffesoli diz: "Não é a imagem que produz o imaginário, mas o contrário. A existência de um imaginário determina a existência de conjuntos de imagens. A imagem não é o suporte, mas o resultado." (MAFFESOLI, 2001: 76). Deste modo, confiamos que a cena cinematográfica de Sofia Coppola exprime esta "aura" do imaginário da cena artística contemporânea. Seus filmes, embora presentes em circuitos comerciais, contém uma poética de extrema sensibilidade e constantes interlocuções das artes enquanto própria base constitutiva do filme. Ademais, seu enfoque de criação recai sobre o quesito visual, em "contar histórias visualmente", o que disponilibiza obras um olhar de desdobramentos relativos as artes visuais enquanto dispositivo cinematográfico. |
|
Bibliografia | AUMONT, Jacques. O olho interminável; Cinema e Pintura. 2o Edição. São Paulo: Cosac Naify, 2011. |