ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Não é feitiçaria, é sinergia: a eterna juventude de Sabrina |
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Autor | Pedro Peixoto Curi |
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Coautor | MARCELA DUTRA DE OLIVEIRA SOALHEIRO CRUZ |
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Resumo Expandido | Nos início dos anos 1960, a Archie Comics apresentou Sabrina na edição 22 da revista Archie’s Mad House. A bruxinha que mora com as tias e descobre seus poderes aos 16 anos conquistou os leitores e continuou a aparecer nas páginas da publicação, até que, em 1971, ganhou sua própria série em HQ, Sabrina, a bruxa adolescente. Nas décadas seguintes, ela protagonizou três filmes, uma série de TV com sete temporadas e três séries de animação, até que, em 2014, voltou a aparecer nas revistinhas da Archie Comics. Mais uma vez, o público ficou encantado e o universo ganhou uma outra série de HQs, O mundo sombrio de Sabrina, que demonstrava um desejo de amadurecer e atualizar a narrativa da bruxinha adolescente. Em 2018, essa nova versão de Sabrina ganhou uma adaptação audiovisual, uma ficção seriada em streaming para o Netflix, com referências narrativas e estéticas particulares. Desde sua apresentação até os dias de hoje, a história de Sabrina e seu gato preto caminha por múltiplas versões, adaptações e apropriações, múltiplas linguagens e plataformas midiáticas, acumula referências, estabelece novos vínculos com diferentes gerações de fãs e ganha, a cada nova manifestação, outros contornos, complexificando debates e atualizando a bruxinha conhecida há quase 60 anos. A prática de veicular um produto de entretenimento através de múltiplas mídias, para explorar melhor diferentes mercados, destaca uma estratégia importante para a indústria cultural no fim do século XX: a sinergia. Nos anos 1990, os produtos voltados para o público jovem eram uma mistura complexa de diferentes mídias, incluindo filmes, programas de televisão e clipes musicais. Certamente, a cultura jovem já se caracterizava pela associação de diferentes textos, por números musicais de artistas consagrados que eram televisionados e depois integravam trilhas sonoras, e até por personalidades e ídolos juvenis que apareciam em diferentes produtos audiovisuais desde a década de 1950 (Davis e Dickinson, 2004). Sunaina Maira e Elisabeth Soep (2005) caracterizam os jovens como o principal alvo da indústria do entretenimento e colocam no centro da globalização. Baseando-se mais em uma posição social estruturada por poderes de consumo, criatividade e cidadania do que na idade biológica, apresentam a juventude como um lugar de conflito ideológico que evoca questões relacionadas ao poder em contextos locais, nacionais e globais. Mesmo quando os jovens não tinham participação nos rumos da sociedade, a juventude já possuía um caráter de espírito do tempo, que aos poucos se converteu em novos hábitos e comportamentos. De um grupo marcado pelos papéis sociais que eram esperados dele por um mundo adulto, os jovens passaram também a difundir gostos, ideias e formas de conduta para indivíduos de outras idades. O papel da cultura massiva foi fundamental nesse processo (Enne, 2010). A longevidade deste universo midiático é sintomático das relações entre os produtos da cultura massiva e o anseios do público jovem. Sabrina mantém-se alicerçada no repertório narrativo do texto fonte enquanto constrói interlocuções com as referências do contexto adaptativo através de dinâmicas que se desenham em um movimento espiralado de manutenções, trocas e atualizações (Soalheiro, 2014). O texto fonte, que tinha certas linhas narrativas e certas questões estéticas, através do processo apropriativo na geração de uma nova obra midiática, é repensado para o novo contexto histórico social, se integrando a debates que são, agora, caros. Desta forma, como processo mercadológico, aliando dinâmicas de produção e recepção, estes novos textos se inserem em debates contemporâneos que interessam seu público alvo, atualizando-os. Neste artigo, tomamos o universo da personagem Sabrina e suas múltiplas manifestações ao longo de quase seis décadas, como ponto de partida para pensar diferentes adaptações e apropriações em contextos sócio-políticos diversos, assim como a sobreposição e acúmulo de referências na Cultura Pop. |
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Bibliografia | DAVIS, G.; DICKINSON, K. (orgs.). Teen TV: Genre, Consumption, Identity. London: BFI, 2004. |