ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Cinema, grupo, clínica: notas sobre uma prática |
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Autor | Cezar Migliorin |
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Resumo Expandido | Os trabalhos de Félix Guattari sobre processos subjetivos, inconsciente e saúde são atravessados por uma máxima: arte e vida não se confundem, mas ambas demandam a mesma intensidade criativa. Nesta comunicação apresentamos algumas notas sobre trabalhos realizados na UFF em que o cinema, e as singularidades do que é criar em cinema, aparece imbricado com grupos de trabalho em que esses processos subjetivos são tão importantes quanto as imagens e sons realizados, nos permitindo falar de uma faceta clínica desse fazer-imagem. Nos concentraremos nessa aproximação com a clínica a partir de uma prática bastante delimitada, circunscrita ao trabalho de grupo. Grupo que não é desenhado por traços comuns ou identitários entre seus membros, mas pelo interesse em estabelecer relações e conexões com o que não pertence ao grupo, pelas imagens e sons, pelo fazer-cinema, ou se quisermos, pelo cinemar. Nós também temos nossas máximas e, nesse caso, uma delas é fundamental: para aprender a fazer cinema, basta uma tarde. No momento, podemos apontar para algumas decisões teórico-práticas desse cinemar. 1) Trata-se de agir com o cinema, filmar, montar, escrever, ver junto o que se fez. 2) O filmar é pautado pelo campo do documentário e do cinema experimental, aqueles que pede uma relação forte com a realidade, com a alteridade. 3) Não partiríamos do texto, mas das imagens, do criar com a realidade. 4) Trabalhamos com dispositivos. De maneira muito esquemática, é com essas linhas principais que o grupo se faz e se abre ao que não é grupo. É com essas linhas que o fazer do grupo perturba a centralidade do líder, do mestre, do coordenador. No cinemar, no fazer-imagem ou no agir-imagem, como temos chamado esse trabalho, não se trata de ler a clínica com o cinema nem vice-versa, mas, fazer uma aproximação em que os limites mesmo de um e outro sejam esgarçados, vazados. Podemos acompanhar Eduardo Passos e Regina Benevides de Barros e falar de uma aproximação transdisciplinar entre cinema e clínica. A “relação que se estabelece entre os termos que se intercedem é de interferência, de intervenção através do atravessamento desestabilizador de um domínio qualquer (disciplinar, conceitual, artístico, sócio-político, etc.) sobre outro.” (Passos e Barros, 2000, pp. 77). É essa nova paisagem para o cinema e para a clínica, ainda instável e plena de fragilidades, que trataremos de compartilhar. Nesse momento, duas facetas da pesquisa são importantes nos tensionamentos com a prática. 1 - É preciso partir de uma certa noção de processos subjetivos, em que uma dimensão maquínica têm na superfície da experiência de mundo uma continuidade de mão dupla com o sujeito. Isso quer dizer que para entrarmos nessa reflexão de uma clínica com o cinema, precisamos destacar a importância que damos para uma compressão dos processos subjetivos constituídos a partir desse emaranhado maquínico, em que as semióticas significantes participam dos mesmos processos subjetivos que as semióticas a-significantes e as formas de percepção – inventáveis - não estão alienadas dos mundos que se constroem para si e para o outro. 2 – Devemos percorrer uma noção de imagem em que a representação perde centralidade para se tornar um nó de uma relação experiencial com o mundo, com a memória e a história. Trata-se então de percorrer acontecimentos em que a criação da imagem e de si – sujeitogrupo – encontra frágeis linhas de aproximação. Acontecimentos que surgem de um cuidado desviante consigo e com o mundo, de uma atenção desejante com a realidade. Tênues acontecimentos de alta intensidade em uma vida. |
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Bibliografia | DELIGNY, Fernand. Fernand Deligny œvres. Édition établie et présentée par Sandra Alvarez de Toledo. Paris: Les Éditions L’Arachnéen, 2007. |