ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Uma concepção de "realismo" a partir de Vinterberg |
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Autor | Fernando Artur de Souza |
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Resumo Expandido | O termo “realismo” deve boa parte de seu sucesso ao fato de ser utilizado de maneira ampla para definir um grande número de práticas culturais dentro do campo da literatura, das artes plásticas e do cinema, para mencionar alguns. No cinema é comum vermos o termo realismo sendo utilizado para definir um determinado tipo de tratamento dispensado à realidades sociais dentro de filmes, como no neorrealismo italiano, em outros momentos, este termo é empregado para definir um determinado tipo de efeito psicológico que um filme causa em seus espectadores, como nos apontam muitas pesquisas no campo da teoria cognitiva, ou ainda, para dar conta de determinadas características estilísticas utilizadas por alguns cineastas, como as longas tomadas ou o uso da profundidade de campo, conforme apontado nos escritos de André Bazin. Em parte pelo advento e popularização da produção cinematográfica a partir de tecnologias digitais, o “realismo” vem sendo retomado e questionado a partir de novas perspectivas culturais, artísticas e tecnológicas. Em 1995, o grupo dinamarquês Dogma 95, liderado pelo então já reconhecido diretor Lars Von Trier, lança um manifesto e, três anos mais tarde, seus filmes, que recolocariam algumas questões acerca do realismo novamente na centralidade das discussões acadêmicas, ao menos em seu país de origem. O grupo propunha uma série de regras, conhecidas como Voto de Castidade, que rompiam com a misé-en-scene clássica, ao negar o uso de iluminação artificial, locações elaboradas, trilhas sonoras, e impedir o emprego de alguns subterfúgios narrativos, como a violência ou a mortes desnecessárias. Neste contexto, o professor e pesquisador dinamarquês Birger Langkjaer passa a desenhar uma noção acerca do termo “realismo”, ancorado nas práticas cinematográficas deste país. Em sua concepção, o realismo deveria ser entendido para além de efeitos psicológicos específicos ou de características estilísticas pontuais possíveis em um filme, mas sim como uma prática mais ampla que abrangeria todo um conjunto de filmes que não seguiam as características tradicionais e consolidadas dos filmes de gênero, mas ao mesmo tempo não se alinhavam com as perspectivas subjetivas, não-lineares e existenciais comuns aos filmes de arte. O objetivo desta pesquisa é, portanto, validar a proposta teórica de Langkjaer e analisar sua aderência às obras mais recentes da cinematografia dinamarquesa. Partiremos do princípio de que elementos tradicionais do cinema deste país, observados e caracterizados por Langkjaer em seus textos, tendem a ser permanentes e podem ser encontrados em muitos filmes atuais, fazendo com que sua noção de realismo permaneça relevante para este cinema nacional, e que possa servir de base para a observação de outras cinematografias, desde que consideradas suas idiossincrasias. Para isso, propomos utilizar as balizas teóricas e características analíticas propostas por Langkjaer em seus artigos Realism and Danish Cinema, publicado em 2002, onde o autor passa a traçar algumas das características fundamentais do realismo cinematográfico dinamarquês, e Realism as a third film practice, publicado em 2011, onde ele consolida sua noção de realismo, apontando para características e métodos a serem observados para a análise de filmes. Serão observados sob o prisma proposto por Langkjaer os filmes A Caça (Jagten), de 2012, e A Comunidade (Kollektivet), de 2016, ambos idealizados e dirigidos pelo diretor dinamarquês Thomas Vinteberg, co-autor do Voto de Castidade do Dogma 95 ao lado de Lars Von Trier. |
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Bibliografia | Allen, R. (2014) "There is not one realism, but several realisms": a review of Opening Bazin. October. 148, Spring, pp. 63-78. |