ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Infância e cinema: outra perspectiva para o corpo na escola |
|
Autor | Karine Joulie Martins |
|
Resumo Expandido | Esta comunicação é uma reflexão inicial que parte de experiências de fruição/produção de cinema na escola pública com crianças em âmbito de pesquisa e extensão. Tem como objetivo nos aproximarmos de uma dimensão central nas discussões de reinvenção da educação na contemporaneidade: o corpo. Partimos do contexto da escola moderna, pautada por valores industriais, sobre a qual se pronuncia Foucault (2007), para chegar ao seguinte questionamento “como o cinema, dentro de uma perspectiva expandida, pode nos ajudar a diluir os enrijecimentos da escola moderna que perduram nos dias atuais?”. Conhecer o mundo, para as crianças, tem relação direta com o corpo – em torno do qual se promove o brincar através dos gestos da coleção, da subversão da ordem e da criação de funções para os objetos esquecidos pelos adultos. Como expõe Benjamin (2009), com o brincar as crianças produzem sua cultura e deixam suas marcas no mundo e na história. Sobre o corpo que brinca se dá a ação do adulto nos processos de socialização, imprimindo nele marcas, gestos e valores para transformar a criança em um ser social. A escola, um dos principais espaços de socialização, é vista por Masschelein e Simons (2014, p. 105) como uma “intervenção democrática no sentido que cria tempo livre para todos, independentemente de antecedentes ou origem, e por essas razões, instala a igualdade”. O tempo livre é condição necessária para colocar as crianças disponíveis para conhecerem o mundo velho a partir do conteúdo instituído. Porém, as ações pedagógicas pautadas numa dualidade cartesiana entre corpo e mente, impõem limitações e sanções ao tempo livre do corpo na escola. Movimento esse que se estreita especialmente a partir do Ensino Fundamental, quando a estrutura da escola, linear, seriada e fragmentada aproxima-se de parâmetros industriais, exigindo assim o exercício exaustivo da ordem e da disciplina, restringindo o tempo do brincar ao recreio e, eventualmente, às aulas de educação física. Numa perspectiva contrária a esse enrijecimento dos corpos das crianças surgem inúmeras propostas que inserem a experiência estética como uma forma de pôr em questão os ordenamentos sociais e estruturais na escola. Como as práticas com fruição/produção de imagens pautadas pela aproximação com cinema, que têm o potencial de resgatar o brincar à medida que dispõe o corpo a sentir a partir do filme, ressignificar o que é visto e propor outra realidade com a produção de uma nova imagem. Tais como o Projeto Inventar com a Diferença: Cinema e Direitos Humanos (MIGLIORIN, 2015), que propõe o encontro com outros sujeitos e espaços na escola e no território frente à câmera ou na própria mobilização em torno dela no pátio da escola, fazendo surgir corpos disponíveis a assumirem seu lugar de experiência. Ensaiando caminhos para nossa questão inicial nos aproximaremos de alguns filmes produzidos por crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental entre 2016 e 2018 em contextos de pesquisa e extensão em escolas públicas de Florianópolis/SC. Para além de experimentações audiovisuais, as imagens produzidas por estes corpos “ativados” pelo cinema carregam marcas da singularidade dos seus autores, seus pontos de vista, suas condições de existência, e especialmente um modo diferente de olhar o mundo a partir de uma nova disposição de corpo na escola. Ao mesmo tempo, essas imagens trazem em si o processo de aprendizagem, o seu tempo da apreensão da linguagem enquanto produto. Um processo aberto que convida – especialmente as crianças – a participarem da sua continuidade. |
|
Bibliografia | ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2014. |