ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | A Criada: um estudo sobre a representação feminina no cinema hanryu |
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Autor | Ana Maria Antunes Monteiro |
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Resumo Expandido | O termo hanryu, que significa Onda Coreana, foi criado por jornalistas chineses no fim da década de 1990 (JÚNIOR, 2008) para tratar da profunda transformação e expansão do cinema sul-coreano. Novos diretores estabeleceram um ritmo de produção que dominou o mercado do leste asiático e que, atualmente, domina também o ocidente: já é possível consumir produtos audiovisuais para TV e para salas de cinema na Netflix, uma das maiores plataformas de streaming. Consumir tais produções traz novas questões sobre gêneros cinematográficos, história, política e representação feminina. É possível ver personagens estereotipadas que vão de Maria à Madalena, santas ou promíscuas. Nesse quesito, o último longa-metragem do diretor Park Chan Wook, A Criada (2016) ganhou grande visibilidade ao trazer uma trama de sedução e mistério e levantando questões sobre o olhar masculino na dimensão diegética e fora dela. Ao escrever Prazer Visual e Cinema Narrativo, Laura Mulvey (2003) procurou compreender as sensações do espectador masculino no cinema, a partir do princípio do voyeurismo e da identificação com o protagonista homem. Em A Criada, essa aproximação pode surgir com o Conde Fujiwara, um falsificador coreano que se passa por japonês, cujo objetivo é se casar com Hideko e roubar fortuna de seu tio durante o período colonial japonês na Coreia. A expectativa da conquista e da consumação sexual é o que atrai e mantém a atenção do público masculino através da escopofilia, isto é, a transferência do prazer ao próprio orgão genital a partir da observação de outros. Ann Kaplan (1995) afirma que o cinema baseado nesse instinto transforma o espectador num voyeur. O outro lado da escopofilia é a representação da mulher. Hideko, apresentada como vítima, é forçada pelo tio, um coreano naturalizado japonês, a realizar leituras eróticas para seus convidados. Isto é, numa manutenção do sistema patriarcal na qual a mulher, segundo os estudos de Mulvey (2003) se torna presa pela ordem simbólica em que o homem exprime suas fantasias e obsessões, e é colocada como portadora de significado e não produtora de significado. A perturbação da ordem começa quando o Conde e Hideko planejam roubar a fortuna do tio e colocam uma criada, Sook Hee, como parte chave para a realização do objetivo. Adrienne Rich (2010) aborda que o cinema reforça o controle da mulher através da maternidade, família tradicional, casamento e heterossexualidade. A orientação sexual, segundo ela, é a principal instituição política que retira o poder do sexo feminino. Ou seja, a partir da homossexualidade, Hideko seria capaz de se livrar do domínio patriarcal de um tio que explora sua exposição e sexualidade como objeto de desejo dos convidados e do Conde Fujiwara, que mais do que um parceiro de golpe também deseja manter relações com ela. À medida que o relacionamento das jovens avança, elas veem a necessidade de romper com a influência e o domínio masculinos em suas vidas. A fortuna que o Conde combinou de dividir com Hideko e com Sook-Hee, fica completamente com o casal, enquanto o golpista é devolvido ao tio que o tortura até a morte, ameaçando até mesmo castrá-lo. Por mais que o diretor se valha do voyeurismo no começo da história (e de seu próprio olhar masculino), a expectativa de realização masculina é completamente destruída já que nenhum homem consegue possuir Hideko. Além das moças ficarem ricas, Sook-Hee destrói toda a coleção de literatura erótica do tio de sua companheira, reiterando a mensagem de que mulheres não são objetos a serem possuídos. Uma vez livres dessas imposições da sociedade patriarcal, o casal pode finalmente começar uma nova vida. |
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Bibliografia | JÚNIOR, Luiz Carlos Oliveira. De volta para o futuro: a nova era do cinema sul-coreano. In: BAPTISTA M; MASCARELLO F (orgs.). Cinema Mundial Contemporâneo. Campinas, São Paulo: Papirus Editora, 2008. p 321 |