ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Harun Farocki e Bertolt Brecht: aproximações |
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Autor | Arlindo Rebechi Junior |
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Resumo Expandido | Como cineasta, Harun Farocki tornou-se um dos grandes críticos do acervo mundial de imagens produzidas. A produção de imagens, em sua cinematografia, nunca esteve isolada de um procedimento crítico de análise e interpretação das condições de produção e das formas de significação e sentido social que tais imagens adquirem no espaço público de circulação. Um dos principais comentadores do cineasta, Thomas Elsaesser (2004, p. 11) aponta que devemos compreender o cinema de Farocki como “uma máquina do visível que, por si mesma, é altamente invisível”. Dito de outro modo, o crítico parte do pressuposto de que o cinema teria muitas histórias a contar e apenas algumas delas pertenceriam aos filmes. Nesse sentido, Farocki, assumindo um papel de arqueólogo das imagens, projetou e elaborou toda uma extensa obra audiovisual com o propósito de expor e reconstruir as linhas de forças de conexão de todas as histórias que as imagens em movimento são portadoras. Por detrás desse seu propósito, está uma indagação sobre a qual sua obra vai gravitar: o que, de fato, é uma imagem? E cuja derivação pode assim ser traduzida, em termos específicos: a partir de um singular e compulsório trabalho meditativo, o que o cineasta pode compreender sobre os diferentes, contrastivos e opositivos modos de aparição e significação das imagens, em termos discursivos? A crítica da imagem construída pela obra audiovisual de Farocki arrolou uma diversidade de métodos para se explorar as nuances e as múltiplas significações das imagens e suas produções. Dentro desse seu heteróclito método, resultante de uma incansável busca epistemológica em torno da imagem, não só a fortuna crítica de Farocki, como o próprio cineasta assinalou a existência de dois diálogos centrais em sua obra: um deles é o cinema de Jean-Luc Godard e o outro é a obra do Bertolt Brecht. Em torno deste último que esta comunicação vai se deter. Como é sabido, Bertolt Brecht é responsável por uma grande renovação no campo teatral no século XX, tendo sido o fundador do chamado teatro épico. O seu teatro é a contraposição do teatro dramático de formulação aristotélica. Como assinalou Walter Benjamin, em um célebre texto sobre o teatro épico: sua arte “consiste em provocar espanto, não empatia. Em uma fórmula: o público, em vez de sentir empatia pelo herói, deve aprender a se espantar com as situações em que esse herói se encontra” (BENJAMIM, 2017, p. 25). Diferente do drama, no sentido clássico, este teatro não deveria se ocupar com as ações dramáticas, mas apresentar situações ao público. Para isso, Brecht propõe o Verfremdungseffekt, o efeito do distanciamento, que consiste, como forma de quebrar a ilusão teatral e naturalista, em colocar o objeto da representação de maneira a distanciar do espectador, fazendo com que este experimente uma sensação de estranheza diante da cena. Em texto teórico sobre essa nova técnica da arte de representar, Brecht escreveu que “o objetivo desta técnica do efeito do distanciamento era conferir ao espectador uma atitude analítica e crítica perante o desenrolar dos acontecimentos” (BRECHT, 2005, p. 103). Tendo em vista o propósito de aproximar a obra do cineasta Harun Farocki ao conjunto analítico do teórico teatral Bertolt Brecht, esta comunicação realizará uma leitura da obra do cineasta – notadamente seus filmes de juventude, em especial e como foco central Fogo inextinguível (Nicht löschbares Feuer, 1969) –, buscando extrair as estratégias narrativas implementadas pelo cineasta-crítico em sua aproximação com a estética didática brechtiana. |
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Bibliografia | BENJAMIN, Walter. Ensaios sobre Brecht. Trad. Claudia Abeling. São Paulo: Boitempo, 2017. |