ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | O espaço urbano da experiência LGBT em "Rafiki" (Quênia, 2018) |
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Autor | Ana Camila de Souza Esteves |
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Resumo Expandido | Esta comunicação busca oferecer uma análise da experiência LGBT na cidade de Nairóbi, no Quênia, a partir da narrativa do filme Rafiki, dirigido pela realizadora queniana Wanuri Kahiu em 2018. O Quênia é um país onde a homossexualidade é considerada crime, e Rafiki foi proibido de ser exibido em seu país de origem, e ao mesmo tempo em que causou comoção no mundo inteiro, também garantiu assim sua notoriedade em diversos festivais nos mais variados países – incluindo contratos de exibição comercial em muitos dele. Rafiki conta a história de amor entre duas adolescentes, Kena e Ziki, que além de se apaixonarem em um contexto proibitivo, são filhas de pais que se enfrentam em uma disputa política na cidade de Nairóbi, capital do Quênia. A relação entre as duas dentro da narrativa pode ser analisada pela forma como se relacionam com a cidade, como a diretora constrói os espaços de existência e de enfrentamento pelos quais as duas jovens passam para estar juntas, a despeito da proibição do estado. Nossa proposta é pensar a experiência LGBT como uma experiência urbana possível de conflitos e disputas, partindo da articulação de duas conjunturas teóricas: a noção de experiência urbana articulada ao pensamento sobre cidades do sul global, e metodologias de análise fílmica que permitem pensar o filme em sua materialidade – com o objetivo de analisar o modo como o espaço urbano ao mesmo tempo condiciona e ressignifica a experiência de Kena e Ziki em Rafiki. Este trabalho está relacionado a uma pesquisa de doutorado em andamento. O objetivo é primeiro fazer uma espécie de cartografia de como o urbano aparece nos filmes africanos, de 1960 a 2020. Que histórias estão sendo contadas nesses espaços urbanos? Ou ainda: que histórias as metrópoles africanas contam? As cidades se apresentam como cidades reais ou "suspensas" (uma espécie de não-lugar)? O que a cidade faz fazer? - no sentido de: como a cidade condiciona ou mesmo constrói a experiência do sujeito/personagem africano. O que é que acontece com esses personagens só porque eles estão vivendo aquele espaço urbano específico? Que experiência urbana é construída nestes filmes, nestas narrativas? O desafio é primeiro olhar para estes filmes a fim de identificar que experiências seriam essas, depois analisar de que modo a cidade move, constrói, condiciona a experiência dos personagens, e então tentar criar categorias de experiência urbana que deem conta de toda essa cinematografia. No fim, talvez haja uma proposta de metodologia para se pensar a experiência urbana nos cinemas africanos, de modo a contribuir para o campo desses estudos, especialmente no sentido de compreender a experiência africana que "se oferece" no cinema a partir do urbano, em suas especificidades de linguagem. Outro ganho é ter um panorama de como a cidade atravessou a história dos cinemas africanos, e como o urbano foi costurando diversas narrativas sobre a experiência africana, até uma perspectiva mais contemporânea, que revela um momento no qual as controvérsias ao redor do que se pode considerar "cinema africano" ainda é uma questão. |
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Bibliografia | ÁLVAREZ, Iván Villarmea. Documenting cityscapes: Urban change in contemporary non-fiction film. Columbia University Press, 2015. |