ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Da alteridade à alterofobia: o outro no cinema latino-americano |
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Autor | Luiz Fernando Roos Todeschini |
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Resumo Expandido | Esta investigação busca no cinema latino-americano contemporâneo as figurações do outro como motor para os conflitos sociais em cenários urbanos. Atravessando o pensamento estético-político, interrogo as implicações de uma alteridade compulsiva (Figueiredo, 2012) em espaços cujos outros, menos distantes e apartados, passam a conviver em proximidades compulsórias. Compreender o sentido da alteridade humana em sua experiência histórica requer resgatar do termo sua raiz colonial, contexto em que passou a significar problema. Dessa forma, procuro sublinhar os mecanismos históricos que constituíram as formas iniciais de percepção e controle do outro no início da colonização da América para, com isso, apontar as continuidades em certas práticas cotidianas. Trato de apresentar algumas ideias fundamentais: a dialética entre semiótica e alteridade (Todorov, 2010); as permanências do projeto colonial na geopolítica da linha abissal que segrega o mundo do progresso moderno ao selvagem e fora-da-lei (Santos, 1999; 2007); a categorização hierárquica e subordinada dos saberes coletivos na trincheira do alterocídio moderno que apazigua o outro odiando (Mbembe, 2014), herança imediata do epistemicídio civilizatório; o conceito de cine de la marginalidad de Christian León (2005; 2010) e o jogo de visibilidades nos cenários comunicacionais. Mas ainda, e com mais ênfase, busco na alterofobia o comportamento que une no mesmo gesto o gosto pela aniquilação e o desejo de ser o outro. Quando a repulsa e o fascínio trafegam em via dupla. Essas ideias são visíveis em filmes como El Hombre de Al Lado (Gastón Duprat e Mariano Cohn, 2010), ao reconhecer no ilustre vizinho Leonardo o potencial risco ao lugar de distinção do arquiteto Victor, ou na abjeção ao matador de aluguel Anísio em O Invasor (Beto Brant, 2002) e o medo generalizado e paranóico da ascensorista Glória em Praça Paris (Lúcia Murat, 2018). Tais narrativas questionam os modelos de sociabilidade em termos de uma crise da comunicação. Isso se faz visível nas oscilações entre o aparato jurídico e o diálogo humano, ou entre a desconfiança e a necessidade de isolamento e proteção. O pensamento espacial das puestas-en-escena evidencia essas distâncias que os personagens tomam de si, sendo os muros, janelas e vizinhanças atordoados pelas estritas relações de poder que organizam o comum e suas subjetividades. Esse trabalho procura resgatar o sentido pela figura da alteridade em sua negociação contemporânea, já que há muito tempo deixou de significar mediação ou partilha para se tornar abjeção e incomunicabilidade. |
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Bibliografia | FIGUEIREDO, Vera Lúcia. A partilha do espaço urbano e a questão do outro próximo: repercussões no discurso teórico e na ficção cinematográfica. Galáxia: Revista do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica, São Paulo, 2012. |