ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Invenções e (re)existências em Cuauhtémoc e Mundo Incrível REMIX |
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Autor | ROBERTO RIBEIRO MIRANDA COTTA |
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Resumo Expandido | Sobre a apropriação de imagens de arquivo, Adriano (2015) aponta a existência dessa prática como uma das condições fundadoras do cinema brasileiro. Para tanto, ele cita o caso de Cunha Salles, um prestigitador, médico, bicheiro e exibidor responsável pela patente dos fotogramas supostamente mais antigos registrados no Brasil, cuja autoria até hoje é questionada ou contestada. No entanto, mesmo que esses fotogramas não tenham sido realmente filmados por Cunha Salles, a situação pode estabelecer um gesto pioneiro de found footage, oferecendo ao cinema nacional uma tradição diversas vezes renegada por cineastas, críticos e acadêmicos. Cuauhtémoc (2012), de Leo Pyrata, incorpora essa tradição e apresenta uma constelação de imagens e sons (muitos deles apropriados de distintos arquivos), construindo um experimentalismo repleto de camadas estéticas. O título desse curta-metragem mineiro toma emprestado o nome do último imperador asteca, que resistiu à invasão espanhola, às vésperas de um violento processo de colonização. Fora isso, a obra não faz qualquer menção efetiva a tal governante, às características culturais de seu povo ou às influências colonizatórias que sofreu. Contudo, essa escolha possibilita associações simbólicas: “Em Cuauhtémoc, a implosão e a reconfiguração da língua é um ato de resistência” (ANDRADE, 2013, p.1). Sendo assim, a obra pode ser analisada pela chave do uso da linguagem cinematográfica como forma de resistir/confrontar, o que permite contato com outras tradições do cinema brasileiro. A mais notória delas é a defesa de uma precariedade de recursos técnicos capaz de potencializar a concepção estética de uma determinada obra, discurso que pode ser encontrado em pesquisas desenvolvidas por Bernardet (2007), Ferreira (1986) e Xavier (2012). No curta, dentre vários outros elementos, há uma conversa ruidosa que discute o disfarce da precariedade durante a realização de um filme, trazendo operações estéticas que proporcionam contradições, ironias e argumentações políticas. Mundo Incrível REMIX (2014), de Gabriel Martins, é outro recente curta-metragem mineiro que vai ao encontro dessas percepções características do cinema brasileiro e de sua história. Igualmente realizado com parcos recursos orçamentários, o filme baseia-se numa multiplicidade de formas de registro, atribuindo a elas matrizes estéticas diversas. Das fotografias de arquivo ao CGI não-realista, ou das imagens em VHS à conversa na webcam, uma série de situações se descortinam, muitas vezes sem oferecer qualquer atribuição de causalidade. "O desafio aqui é conseguir criar uma linha que leve de um elemento ao outro e que seja de continuidade e descontinuidade ao mesmo tempo. [...] É a crença na forma das coisas, e no poder da imagem como agente dessas formas, que funciona como pulmão para a sucessão de transformações que não cessamos de ver em Mundo Incrível REMIX." (GOMES, 2014, p.1) É importante ressaltar que as transformações indicadas pelo autor atravessam as vivências de uma família negra que mora numa região periférica de Contagem/MG. Numa das cenas, um dos personagens relata um sonho no qual confronta o racismo com um imaginário rabo de dinossauro. Nesse sentido, é possível afirmar que as articulações estéticas desse curta também pressupõem o uso da linguagem como forma de resistência política, permitindo que o fantástico e o freak estejam próximos de uma experiência de mundo crível e cotidiana. Portanto, este artigo busca analisar não somente o modo como esses dois filmes proporcionam um retorno a um conjunto de tradições do cinema brasileiro, mas, sobretudo, como eles inventam seus próprios códigos e constroem composições estéticas que atuam como forma de sobrevivência ou (re)existência no cenário cinematográfico contemporâneo. A metodologia se aporta na análise fílmica e na aproximação dos conceitos de fábula cinematográfica (RANCIÈRE, 2013) e de política como ação e processo (ARENDT, 2007). |
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Bibliografia | ADRIANO, Carlos. Reapropriação de arquivo e imantação de afeto. Goiânia: VISUALIDADES, v.13, n.2, p. 60-80, jul-dez, 2015. |