ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | A imagem-clichê na escrita cinematográfica |
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Autor | Joanise Levy (Jô Levy) |
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Resumo Expandido | Este trabalho é parte de uma pesquisa que problematiza a noção historicamente construída de clichê por oposição ao conceito de originalidade. Essa questão surge no âmbito da escrita cinematográfica, que mais do que resultar na elaboração do texto-roteiro, demanda a criação de imagens fílmicas, as quais são dotadas de certa especificidade ontológica, qual seja: a vocação de serem filmáveis. As imagens fílmicas, portanto, aqui referidas, são aquelas apreendidas pelo dispositivo câmera e organizadas narrativamente no filme. No cinema narrativo, imagem e storytelling são indissociáveis. Todos os elementos visuais dentro do quadro estão, em maior ou menor grau, implicados na narrativa. Nesse sentido, a especificidade do texto-roteiro não se reduz ao discurso que ele elabora, nem tão-somente ao enredo sobre o qual a narrativa se dispõe, mas à urdidura da trama tecida pela linguagem audiovisual. Admitimos que a concepção preliminar da mise en scene é criada no roteiro, uma vez que demanda do roteirista a capacidade de dar forma textual a imagens fílmicas capazes de mobilizar a imaginação do filme. É, portanto, no âmbito da mise en scene, especificamente na textura de suas imagens, o que David Bordwell (2013) denomina estilo, que bucaremos identificar como os clichês se mostram e articulam a narrativa. A noção de estilo, na acepção de Bordwell (2013), como o conjunto dos usos no domínio da técnica e da linguagem num dado contexto histórico, permitiu-nos delimitar o corpus, por entender que seria necessário retroceder aos primeiros gestos e codificações do cinema silencioso, pois é lá que vamos encontrar as primeiras invenções das imagens fílmicas e os possíveis “proto-clichês” cinematográficos. Conforme sublinha Annick Fiolet (2000,) o clichê cobre tudo o que produz a impressão de já visto. Convenhamos que é um espectro muito difuso para uma investigação que se pretenda criteriosa. Nos pareceu evidente, assim como argumenta Fiolet (2000), que se quisermos tomar o clichê como uma categoria relevante para a teoria do cinema é preciso que saibamos identificar suas formas de manifestação no próprio cinema. Um caminho metodológico seria: “eliminar as formas de repetição chamadas ‘clichês’ de forma abusiva, para chegar a uma definição padrão do clichê cinematográfico” (FIOLET, 2000, p.6). Buscamos distinguir os conceitos de clichê e estereótipo, trazendo as contribuições de Amossy e Pierrot (2010) e Lippman (2008), bem como expor a relação ativa, proposta por Watson e McLuhan (1973), entre clichês e arquétipos. Essa lacuna de estudos sobre o clichê no cinema nos conduziu a um percurso exploratório e conceitual, cujo desdobramento visou identificar como os clichês se mostram nas imagens fílmicas e evidenciam uma dinâmica de produção e reprodução de imagens que é da natureza do cinema. Subsidiados por Gombrich (1986), sistematizamos o conceito de imagem-clichê identificando os aspectos da funcionalidade, da atratividade e da familiaridade dessas imagens na articulação da narrativa dos filmes. Por serem tão funcionais e versáteis, as imagens-clichê parecem, de fato, servir a quaisquer usos, e é justamente seu excesso de uso (overuse) que compromete sua reputação e seu valor estético. Isso nos indica que certas imagens são adjetivadas como clichês por razões extrínsecas à sua forma e dependentes de um sistema valorativo. O caráter dinâmico das imagens-clichê, por serem refugadas ou desqualificadas esteticamente por alguns ao mesmo tempo em que reiteradamente usadas por outros, indica uma ambivalência entre o overuse e o refugo. Essa constatação conduziu o trabalho para o debate sobre valor estético e suas contingências no “mundo do cinema”, a partir das contribuições de Smith (1988), Danto (2006) e Bourdieu (2009). Consideramos que refletir sobre essas questões contribui para a abertura de um enquadramento metodológico que leve em conta as imagens-clichê como uma categoria de análise viável nos estudos fílmicos. |
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Bibliografia | AMOSSY, Ruth; PIERROT, Anne Herschberg. Estereotipos y chichés. Buenos Aires: Eudeba, 2010. |