ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | As Olimpíadas de Tóquio: imagens do Japão de 1964 e 2020 |
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Autor | Pedro de Araujo Nogueira Tinen |
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Resumo Expandido | Inicialmente destinadas para a direção de Akira Kurosawa, as rédeas do filme oficial sobre as olimpíadas de Tóquio de 1964 foram transferidas para Kon Ichikawa após um desentendimento de Kurosawa acerca do orçamento do projeto (YOSHIMOTO, 2000, p. 427). Um dos poucos documentários da carreira de Ichikawa, a versão original com 170 minutos de duração do Olimpíada de Tóquio (tokyô orinpikku, 1965) estreou no Festival de Cannes, onde recebeu o prêmio da crítica. Ainda assim, a versão de quase três horas do filme desagradou o comitê olímpico japonês – que almejava um retrato mais descritivo e televisivo do evento. O resultado é uma nova versão de 120 minutos, editada sob a tutela do comitê, considerada até hoje como a versão final do filme pelo Comitê Olímpico Internacional. Uma produção de proporções épicas, 164 cinegrafistas e 57 técnicos de som trabalharam na captura de mais de 70 horas de material (CAZDYN et al, 2001, p. 315), igualmente, o filme foi um grande sucesso de bilheteria no Japão da época apesar das controvérsias entre realizador e os patrocinadores da obra. O filme oficial, na visão do comitê olímpico, era uma pedaço importante para o objetivo final dos jogos de Tóquio: o de reposicionar a imagem do Japão diante do mundo. Quase vinte anos após o bombardeio nuclear de Hiroshima e Nagasaki e do final da Segunda Guerra Mundial, os jogos de 1964 buscava produzir a imagem de um novo país, de um Japão moderno e de uma potência econômica, política e tecnológica na Ásia. A ideia de que o passado havia sido superado é apresentada logo na primeira sequência do filme, a demolição de muros antigos dá lugar aos prédios monumentais e modernistas que sediaram o evento. A crise entre Ichikawa e o comitê surge justamente desse ponto, enquanto o diretor produziu um retrato intimista da saga de atletas do mundo todo – focando nas suas feições de ambição, derrota e vitória – os organizadores desejam ver mais da proeza dos atletas japoneses e das grandes obras realizadas para o evento (o trem bala, shinkansen, foi entregue apenas nove dias antes da cerimônia de abertura). Um comparação entre as duas versões do documentário – um distribuída internacionalmente pela British Lion Films e a outra pela Critetion Collection – pode nos ajudar a compreender a porosidade que existe entre os discursos oficiais e dissidentes que ambos os filmes produzem. De outro lado, enquanto a cidade de Tóquio é apenas uma coadjuvante no filme de Ichikawa, ela é a protagonista na produção audiovisual que antecede a edição dos jogos em 2020. Novamente, a narrativa oficial almeja renovar a imagem do país e, para isso, tanto o cinema quanto as novas mídias são empregados. O projeto de Naomi Kawase foi selecionado para a produção da obra oficial sobre as olímpiadas de 2020, mas enquanto o filme ainda está em fase de pré-produção, o comitê olímpico realiza uma série de pequenos vídeos destinados às redes sociais. Essas novas imagens nos revelam os discursos que cerceiam a próxima edição das olímpiadas no Japão: são, igualmente a 1964, imagens de um país tecnológico e moderno, mas também de um país globalizado e multicultural. Se nos anos 1960, o Japão buscava mostrar que os desastres da guerra haviam ficado para trás, agora, o país quer mostrar ao mundo que a estagnação econômica das últimas décadas e o desastre nuclear de Fukushima também foram superados. Colecionam-se imagens pop, saturadas e coloridas, que buscam exibir um país revigorado onde a tradição coexiste com a novidade. Tanto em 1964 quanto em 2020, a imagem audiovisual e cinematográfica é peça fundamental para a produção de imaginários e discursos acerca da cidade e do país, assim como para o soft-power japonês frente aos jogos olímpicos. |
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Bibliografia | ANDERSON, Benedict. Imagined communities: Reflections on the origin and spread of nationalism. Nova Iorque: Verso, 2006. |