ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Atos políticos cinematográficos e o golpe de 2016 no Brasil |
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Autor | Bruno Saphira Ferreira Andrade |
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Resumo Expandido | Períodos históricos em que a violência, institucional e simbólica, assume o protagonismo das relações sociais e politicas aguçam atos de resistência por parte, principalmente, de artistas e intelectuais em uma sociedade. Podemos ver na ordem do dia brasileiro diversas frentes de atuação diante das agressões cotidianas que sofremos desde o fomento ao processo de impeachment/golpe que teve início logo após a eleição que confirmou o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff em novembro de 2014. O cenário é vertiginoso, as reações a ele também. No campo do cinema brasileiro destacam-se duas obras que abordam nossa atualidade política a partir de posturas absolutamente diferentes, são elas: Era uma vez Brasília (2017) do cineasta Adirley Queirós e O Processo (2018) da cineasta Maria Augusta Ramos. A obra de Adirley acentua sua aposta, já vista em Branco Sai, Preto Fica (2014), de uma narrativa que põe junto a irrealidade distópica de uma ficção científica e um contexto real também absurdo, num diálogo estimulante, improvável, lacunar. Já a obra de Maria Augusta segue os procedimentos, que a cineasta já adota em sua cinematografia, inspirados no movimento do cinema direto norte americano das décadas de 1960 e 1970, cujo um dos fundamentos é o acompanhamento de determinado fenômeno social sem uma interferência direta ou ao menos visível/audível da cineasta. Ramos acompanha as etapas que configuram o golpe/impeachment da presidente Dilma Rousseff, nos mostrando as etapas do processo e formando um mosaico complexo das instâncias e atores que agem nesse fato social de grande impacto e mobilização. Duas posturas bastante distintas que orbitam num mesmo ambiente. Esse trabalho se propõe analisar essas duas obras a partir da ideia de uma política das imagens, do filósofo Jacques Rancière, que está atrelada e é de certa forma uma derivação de duas de suas formulações centrais que são o regime estético das artes e as noções de política enquanto dissenso. Apesar do corpus está vinculado fortemente a um contexto da política institucional, a análise parte não da identificação do tema como caracterizador da imagem desses filmes como política. A discussão passa por avaliar os "atos cinematográficos" - expressão de certa forma metafórica proveniente do Ato Fotográfico de Dubois - que atravessam essas obras e que chegam até nós não como reorganização de um campo de entendimento do contexto abordado/encenado, e possível prescrição de contraposição a ele, mas como expressões vertiginosas que se inserem numa dinâmica política de rupturas e dissensos. Seria a pretensa não intervenção do cinema direto uma postura organizadora da experiência real do golpe? Há caminhos a seguir no mundo devassado e improvável da ficção-documental-científica de Adirley? Questões que, por hora, estimulam esse trabalho. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. Limites de la fiction: considerations actuelles sur l’état du cinéma. Paris: Bayard, 2014. |