ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Montagem, documentário e política: uma proposta de método de análise |
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Autor | ana rosa marques |
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Resumo Expandido | Nosso objetivo é estabelecer princípios e um método que identifique e possibilite a observação do gesto político da montagem no documentário e a partir disso empreender uma breve análise de um filme. Se nosso foco principal é a montagem, nos parece importante não estabelecer uma separação estanque, apartada das outras etapas de realização fílmica, pois seu papel é justamente relacional, não apenas entre as imagens e sons, mas com os diversos elementos da cena e com o mundo. Assim, pretendemos relacionar a montagem às formas de abordagem e de mise en scène na proposição de uma partilha mais democrática entre realizador, personagens e espectador na construção dos sentidos e significados do filme. Em um primeiro momento, confrontar a montagem com as formas que o cineasta escolhe para abordar determinada realidade é importante porque já nesta etapa se desenham uma série de escolhas enunciativas e políticas: qual o ânimo do cineasta ela expressa? Que relação procura estabelecer com os sujeitos filmados? Como essas formas divergem ou dialogam com as formatações do mundo e de outras narrativas? Que espaço abrem para a heterogeneidade (de vozes, de presenças, de ação e pensamento) e o acaso? Num segundo momento observaremos como a montagem se relaciona tanto com os aspectos que dão dimensão física à cena em seu aspecto plástico (cenários, iluminação, operações de câmera) quanto na ação desenvolvida diante da câmera ( a atuação dos personagens). Para autores como Fernão Ramos (2011) e Jean Louis Comolli (2008), o “coração da mise en scène” pulsa especialmente na ação do corpo do sujeito filmado, no seu movimento, expressão e relação estabelecida com as diversas operações de cinematografia e os outros sujeitos da cena (demais personagens e o diretor). Assim é importante verificar como o outro filmado é escutado e influencia as formas da montagem (seus gestos, expressões, ritmo, pausas, fala, atitude). Como as relações desenvolvidas na cena vão orientar as escolhas em termos de seleção, organização e justaposição dos planos? Essas escolhas reiteram os lugares e papéis já dados a esses sujeitos no mundo ou questionam, tensionam? A partir da discussão já empreendida por autores como Cézar Migliorin, Marie José Mondzain e Didi-Huberman destacaremos e definiremos alguns princípios que regem formas mais democráticas de escritura fílmica: como o acaso, a heterogeneidade e o desajuste. Como a montagem se pauta por eles? Ainda há um outro princípio a ser verificado para observar o gesto político da montagem. Para se constituir como um espaço de criação, a montagem precisa dar a ver algo que não estava imediatamente visível nas imagens que só surge com um trabalho de associações, aproximações e distâncias. Para Georges Didi-Huberman, distanciar paradoxalmente não é meramente afastar-se, mas aproximar-se para desvelar e fazer ver melhor o que há sob o caráter ilusório da imagem (DIDI-HUBERMAN,2008, p. 76). Como afirma o pesquisador André Brasil, é necessário criar uma forma crítica: “é preciso devolver ao mundo uma forma que não estava lá e que produza descontinuidade em relação aos seus desígnios (BRASIL, 2011). |
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Bibliografia | BRASIL, André. A montagem no cinema brasileiro. 2011. Disponível em: http://gabrielmascaro.com/wp-content/uploads/2010/07/ . |