ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Movimento criador e roteiro – relatos cartográficos |
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Autor | Ana Ângela Farias Gomes |
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Resumo Expandido | A crítica genética, na qual se baseia Salles em suas pesquisas sobre o processo criativo, foi criada, a princípio, para a investigação no âmbito da literatura. A pesquisadora, entretanto, rompe essa barreira para além da figura do escritor e propõe uma trajetória metodológica capaz de se debruçar pela construção da obra de arte do cineasta, do roteirista, do artista plástico, do performer, entre outros. “Lida-se, assim, com índices de materialidades diversas: rascunhos, roteiros, esboços, plantas, maquetes, copiões, ensaios, storyboards e cadernos de artistas” (SALLES, 1998, p. 15). Esse conjunto representa os documentos de processo, “retratos temporais de uma gênese”, “vestígios vistos como testemunho material de uma criação em processo” (SALLES, 1998, p. 15). Entrevistas, depoimentos e ensaios reflexivos são considerados também documentos de processo, pois oferecem dados importantes. A despeito do caráter retrospectivo, que os coloca fora da “cena” da criação, têm relevância na pesquisa. No caso da investigação proposta aqui, trabalharemos com depoimentos de roteiristas brasileiros registrados em livros (o mais conhecido deles é Palavra de roteirista, de Lucas Paraizo), em filme (documentário Roteiristas, também de Paraizo) e uma série de depoimentos registrados na plataforma Youtube, com destaque para a série Story touch, produzida pela O2 Filmes. No contexto do cinema, o processo criador do diretor tem até um modo de registro bastante conhecido, e que por vezes torna-se também produto artístico, que é o making off. Já o processo do roteirista não ganha muito destaque, salvo em discussões nos diversos manuais de roteiro, entre outros lugares de registro muito pontuais e direcionados ao público roteirista mesmo. Em se tratando desta pesquisa, é descobrir a tessitura que faz emergir um roteiro – daí o foco no processo. Entendendo aqui, como bem pontua Salles (1998), que a materialidade final da obra (no caso aqui, a versão final/último tratamento do roteiro literário) também faz parte do movimento criador. Diante disso, compreender que o material final também é processo. Além do mais, nenhuma obra de arte está “finalizada”, está sempre aberta a ressignificações, o que evoca também a noção cartográfica proposta por Deleuze e Guattari (1995). A cartografia pode ser entendida como um trilhar metodológico que visa a construir um mapa (nunca acabado) do objeto de estudo, a partir do olhar atento e das percepções e observações do pesquisador, que são únicas e particulares, que serão cruzadas com a memória do investigador. O primeiro passo é adentrar nas tramas do objeto. Todavia, as entradas e as saídas são múltiplas. (...) No percurso, é possível perceber e registrar movimentos, verificar amplitudes, tensões, desvios, sem deixar escapar os elementos minoritários. (ROSÁRIO, 2008 p. 212) No caso do roteiro, em específico, esse mapa aberto talvez seja mais forte do que na maioria das manifestações artísticas, tendo em vista que se trata de uma escrita necessária à produção de outro objeto artístico que é o filme. Trata-se, pois, na sua gênese, de uma obra aberta. Segundo Xavier, “o roteiro é estrutura que se afirma como um entre-lugar (...), ainda um filme em palavras, porém com a presença de referências técnicas específicas ao cinema a sinalizar o transporte e a reconfiguração próprios ao movimento transversal” (XAVIER, 2016, p. 14). |
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Bibliografia | DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs – capitalismo e esquizofrenia – Volume 1. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995. |