ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Timecodes e frame rates: uma trajetória do pulso cinematográfico |
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Autor | Silvia Okumura Hayashi |
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Resumo Expandido | Timecode é uma sequência numérica de oito dígitos. Ele é o relógio mestre da produção audiovisual. As formas e usos do timecode podem ser abrangentes e variadas: ele é uma ferramenta de contagem, indexação, uma metadata (RATCLIF, 1993). O timecode pode ser gravado sob a forma de som, imagem, dados. Ele pode se esconder entre intervalos verticais de fitas de vídeo ou ser visualizado como um item de menu em softwares de edição não-linear. O timecode é também uma informação que pode ser obtida através do processamentos de uma gravação de áudio. As decisões técnicas e padronizações do timecode são definidas pela SMPTE – Society of Motion Pictures and Television Engineers. Trata-se de um instrumento de alta precisão, atualmente quantificada com o número de uma parte por milhão. Apesar de invisível nas imagens que chegam às telas, o timecode está incrustado na produção audiovisual. Não por coincidência, o filme Timecode, dirigido por Mike Figgis em 2000 narra uma história em tempo real na qual personagens transitam por uma tela dividida em quatro quadrantes sincronizados no tempo. O timecode é um derivado do vídeo e da eletricidade. Ele possui portanto frequências regionais que decorrem da quantidade de ciclos da corrente elétrica em cada região geográfica. A chegada da cor na transmissão televisiva acarretou uma mudança de velocidade no padrão de transmissão da televisão no sistema NTSC (National Television System Comitee) . Os números assim começam a se proliferar: 25fps, 30fps, 29.97fps. Como todo aparato eletrônico, o timecode está sujeito a falhas, quebras, derivas. Existe toda uma literatura técnica dedicada às patologias do timecode, sejam elas de natureza tecnológica ou semântica, uma vez que a terminologia do timecode incluem termos tão surpreendentes ou reveladores quanto master e slave (PEMMARAJU, 2011). O cinema em sua existência em celuloide passou ao largo das flutuações do timecode, mas não da eletricidade. No cinema sonoro, era de 16 a quantidade de frames registrada a cada segundo. Com a chegada do som, este número passa a 24 quadros por segundo, uma quantidade de amostras suficiente para reproduzir o movimento e o áudio com fidelidade. Em Montage, mon beau souci, texto publicado na revista Cahiers du Cinema em dezembro de 1956, Jean-Luc Godard especula que se a imagem o olho do cinema, a montagem é pulso ou a batida do coração cinematográfico (GODARD, 1956). O movimento na imagem cinematográfica se dá pela sucessão de quadros estáticos capturados na frequência de 24 amostras por segundo (DOANE, 2003). Numa analogia podemos dizer que o pulso cinematográfico, desde o advento do cinema sonoro em 1933, palpita na frequência de 24 batimentos por segundo. A substituição do celuloide pela imagem digital trouxe para a produção cinematográfica todas as questões de frequência e contagem enfrentadas pelo vídeo. Timecodes, frame rates, eletricidade, números e mais números, uma precisão ímpar na contagem e na sincronização entre dispositivos de produção audiovisual e a hora padrão. Uma obra audiovisual como The Clock (2010), de Christian Marclay, uma instalação audiovisual que nos mostra um filme de 24 horas que corre em sincronia absolta com o relógio é ao mesmo tempo uma obra tecnicamente monumental e uma reflexão sobre a natureza tecnológica do tempo cinematográfico (KRAUSS, 2011). Com o surgimento da projeção estereoscópica o frame rate da produção audiovisual está prestes a adotar uma nova frequência. Os 24 quadros por segundo da imagem monoscópica não atendem mais às necessidades de fidelidade da estereoscopia. A decisão por um número específico passará invevitavelmente por questões de engenharia de vídeo, qualidade da imagem e interesses econômicos dos agentes envolvidos em toda a cadeia de produção audiovisual. Um novo frame rate e um novo timecode em breve serão definidos, mudando um padrão definido em 1933 e assim batida do coração cinematográfico ganhará uma nova frequência padrão. |
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Bibliografia | BISHOP, C. “Digital Divide: Contemporary Art and the New Media” in Artforum Vol. 51. No. 1 September 2012. |