ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Brasília no longa-metragem "Branco Sai, Preto Fica" de Adirley Queirós |
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Autor | Carlos Eduardo da Silva Ribeiro |
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Resumo Expandido | A presente pesquisa, apoiada pela Capes, é resultado e desenvolvimento da minha dissertação de mestrado em Sociologia na Universidade Federal de Pelotas, onde analisei a representação da Ceilândia no cinema de Adirley Queirós. A análise aqui proposta se centra na representação de Brasília em Branco Sai, Preto Fica (Adirley Queirós, 2014); cidade que se encontra na narrativa do longa-metragem reiteradamente em uma relação de diferenciação com Ceilândia. A Capital Federal, quase ausente do conjunto de imagens do filme, se faz presente no universo diegético através de múltiplos dispositivos impessoais de controle, bem como dos relatos e experiências dos sujeitos ceilandenses; elementos os quais analisaremos.
A invasão do baile do Quarentão pela polícia - braço do Estado e, portanto, da vizinha Brasília - e a falta de reparação estatal para essas vítimas figuram no proposto pelo filme como manifestações de um racismo de Estado operante no Brasil pós-redemocratização, desacreditando a explicação da “democracia racial” já desacreditada por Antônio Sérgio Guimarães (2002). Os relatos e experiências dos sujeitos no filme sugerem que o controle policial/estatal, no caso do Distrito Federal, se volta enfaticamente contra aqueles marcados como “outros” a Brasília. O discurso oficial durante a construção de Brasília fomentava o “nacionalismo brasileiro”, a modernização, um espaço diferente da então Capital Federal Rio de Janeiro, marcada já na época pela clara segregação social (GOUVÊA, 1998; HOLSTON, 1993). Ironicamente, Ceilândia é fruto de um dos consecutivos processos que removeram população pobre/não-branca do Plano Piloto logo após a construção da nova capital. Esse processo de exclusão territorial se costura na narrativa à referida ação policial, simbolizando a continuidade de uma relação violenta e hierárquica entre as cidades. Branco Sai, Preto Fica refere constantemente a Brasília, apresentada como um espaço inacessível tanto à câmera quanto aos personagens. As imagens da Capital são rarefeitas. Para a construção da Ceilândia, lança mão de elementos de ficção-científica que apresentam a cidade-satélite como distópica e sitiada pelo controle estatal - através da “policia do bem estar social”, mecanismo impessoal de controle do centro sobre a periferia -, acentuação paródica que simultaneamente nos afasta da “realidade social” e, por sua ênfase, nos aproxima das subjetividades e experiências dos sujeitos que participam criativamente da obra. Os recursos ficcionais também permitem-lhes reconstruir na narrativa as relações de poder e de diferenciação pelas quais são constituídos. |
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Bibliografia | GOUVÊA, L. A capital do controle e da segregação Social. In PAVIANI, Aldo. A conquista da cidade. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998. (pp. 75-96). |