ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Os últimos desertores do terceiro cinema |
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Autor | Rafael Castanheira Parrode |
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Resumo Expandido | No Brasil, são diversos os movimentos de coletivos que se juntam em torno dos filmes a partir do cineclubismo popularizado aqui especialmente nos anos 1970. Mas o Cineclube Antônio das Mortes (CAM) é um dos raros casos em que se conjuga não apenas a exibição e debate sobre cinema, mas também da produção de filmes e sua consequente distribuição e difusão no interior de Goiás. Um dos poucos casos brasileiros onde as práticas cinematográficas respondiam diretamente a um processo diverso e as vezes inconsciente, porém repleto de conexões e similaridades com outros coletivos latino americanos surgidos nesse recorte temporal que se inicia em meados dos anos 1970 e início dos anos 1980. Essa delimitação, para além da abordagem historiográfica, representa um período de ruptura e desilusão dessas práticas cinematográficas construídas ao longo de 3 décadas pelos mais célebres teóricos e realizados do cinema latino, que se debruçaram em direção a construção a uma identidade latino americana, acompanhando os movimentos revolucionários políticos que emergiam após o sucesso da revolução cubana em 1959. É não apenas pelo recrudescimento das lutas revolucionárias e do avanço dos governos ditatoriais que se encerra a utopia por um cinema genuinamente vinculado às concepções de um “terceiro cinema”. O surgimento do vídeo e das novas tecnologias da imagem impõem ao cinema novas formas de produção e apreensão da imagem em movimento. A consonância das práticas do CAM com a de outros coletivos localizados em centros à margem do debate estético e teórico canônico da América Latina desse período revela ao mesmo tempo a diversidade estética a que o projeto do cinema latino havia se proposto, bem como suas confluências que demonstram o impacto da noção de cinema revolucionário propagada na América Latina nos anos 60. O grupo de Cáli na Colômbia, bem como o Grupo Chaski no Perú se colocam nessa posição comparativa que busca tanto ressaltar questões teóricas complexas e divergentes acerca de termos como “cine imperfecto”, “nuevo cine latino”, “tricontinental”, “cine popular” e “tercer cine”, bem como entender a partir de seus contextos políticos específicos, a produção de seus filmes e a forma como eles ao lado do CAM se inserem como os últimos portadores de uma utopia de cinema construída na américa Latina ao longo de 3 décadas de debates respondendo a esses conceitos de acordo com seus contextos sócio culturais e políticos. Dessa forma, além de entender como esses coletivos latino americanos se relacionam e respondem a esse processo de construção identitária e revolucionária é importante analisar como os filmes produzidos por eles se inserem nesse debate percebendo como eles carregam ao mesmo tempo um desejo pela continuidade do projeto latino-americano, como a da desilusão de uma experiência convalescente, reforçada pelo enfraquecimento e fragmentação da própria militância da esquerda nos continente latino. Filmes como Recordações de Um Presídio de Meninos e Conceição My Love produzidos pelo CAM, Agarrando Pueblo produzido pelo Grupo de Cáli e Miss Universo em Perú produzido pelo Grupo Chaski, revelam a partir de abordagens estéticas distintas, seja pela via documental, seja pelo experimentalismo novos olhares sobre um período ainda pouco estudado enquanto desdobramento dos estudos sobre cinema latino americano e “terceiro cinema” – entendendo este termo como o que melhor se adapta às práticas coletivas que se pretende analisar em questão. |
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Bibliografia | BIRRI, F. El alquimista poético-político. Por um nuevo cine latino-americano. Madri: Cátedra, 1996. |