ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | PERFORMATIVIDADE POLÍTICA NO CINEMA DE MULHERES TRABALHADORAS |
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Autor | Juslaine de Fátima Abreu Nogueira |
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Coautor | Laís Melo Dlugosz |
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Resumo Expandido | Ao compreender a produção de imagens e sons como um dos mais poderosos territórios da arena contemporânea, nos quais os domínios éticos e políticos estão sendo profundamente alterados (DIDI-HUBERMAN, 2018) e nos quais entretecem-se urgências do presente, capturas pelos bio/necropoderes, bem como corpos-resistências aliançados pela coletividade e pelo plural, este trabalho busca problematizar as conexões entre criação fílmico-artística e a discursividade dos corpos que são localizados, na racionalidade biopolítica neoliberal, como corpos submetidos ao limite da vulnerabilidade, distribuídos desigualmente em sua condição precária: vidas que importam menos, vidas pelas quais não se chora, vidas passíveis de silenciamento e apagamento, vidas matáveis. Em suma, corpos que, pelos exercícios dos poderes hegemônicos, podem até ser viabilizados, mas não podem ser vivíveis. Assim, a partir da multiplicidade de suas diferenças e da intersecção de suas existências corporificadas como mulheres da classe trabalhadora, seladas pelas relações de poder de gênero e raça, atravessadas e constituídas de diversos modos pelo racismo, pelo machismo, pelo patriarcado, pela cisheteronorma, pelo fenômeno da psiquiatrização dos corpos, pelo capacitismo, dentre outros regimes políticos de opressão, violência e violação, intencionamos cartografar como jovens realizadoras curta-metragistas brasileiras, que ainda não realizaram longas-metragens, vêm se colocando ao mundo como cineastas, ou seja, como estão dando os primeiros passos na ocupação do universo artístico e da lógica de mercado do cinema. Enfim, por que decidem ocupar esse espaço? O que pensam como cinema? Como pensam a representação de suas imagens dentro dos filmes? Como pensam a representação das mulheres em cena? Quais são as escolhas dramatúrgicas e estéticas que fazem e por quê? Quais são as escolhas que fazem para representar essas vidas comuns, sua condição precária, as marcas de inteligilidade de seus corpos e suas possibilidades de subversão e resistência? Como pensam e praticam o modo de produção em suas obras? Como isso se reflete como linguagem? Como pensam o mercado do cinema, modo de produção e a própria subsistência? Para esta proposição, arriscamos uma experimentação de conceitos que atravessam o tema filosófico da performatividade política em Judith Butler (1997; 2014; 2015; 2018), cuja reflexão atinge os domínios do corpo, da linguagem e da reivindicação de direitos, a fim de pensar as potências deste cinema realizado por mulheres da classe trabalhadora. A nossa aposta é que este cinema realizado por jovens cineastas brasileiras, dentro da cena dos curtas-metragens, consiste em propostas artístico-cinematográficas que desterritorializam a sintaxe fílmica hegemônica, tanto porque ousam dizer-se pelas bocas destas mulheres e do cruzamento das diferenças que selam suas existências, quanto porque ramificam estética e politicamente os poderes instituídos da linguagem cinematográfica. Ao fazer relevo às obras e pensamentos destas jovens cineastas, arriscamos dizer que o cinema pode ser tomado como um dos mais produtivos espaços performativos contemporâneos, nos quais os corpos podem se reunir publicamente e gritar, ainda que muitas vezes via singularidades e escritas-de-si, as dores e as potências da vida-em-comum, em que os corpos podem subverter a linguagem do inteligível que normatiza, regula e tantas vezes mata, gestando formas de resistências que “não são nada mais senão estratégias de implosão de alguns efeitos do poder, de alguns jogos de verdade, de alguns estados de dominação, cavando brechas de ação, paradoxalmente, nos próprios exercícios hegemônicos do poder, cuja rasgadura só é possível de ser realizada por [sujeitas] livres, ou seja, as resistências são também formas de exercícios de poder nos quais está implicada a liberdade” (NOGUEIRA, 2015, p. 129-130). |
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Bibliografia | BUTLER, Judith. Linguaje, Poder y Identidad. Madrid: Editorial Sintesis, 1997. |