ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Representação e memória cultural em Cabeça a Prêmio, de Marco Ricca. |
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Autor | Márcia Gomes Marques |
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Resumo Expandido | Um dos elementos que continua interessando ao estudo da produção midiática é a questão da representação. No caso dos produtos das mídias audiovisuais, essa questão tem, necessariamente, um duplo desdobramento: o problema da representação realizada pela linguagem e pelos recursos expressivos das mídias, que camuflam, de certa forma, a intervenção que realizam na realidade social ao selecionar e combinar imagens de objetos, de cenários e de personagens para compor suas narrativas; e as representações sociais construídas pela matéria da representação e pela estrutura do imaginário presentes na composição das obras ou produtos midiáticos. Se as imagens e sons das narrativas audiovisuais são tidos como evidência ou testemunho da existência do ocorrido, mitigando o que têm de construto e proposta, as representações sociais realizadas pela seleção dos atores sociais, das espacialidades e dos conflitos são considerados, muitas vezes, como a evidencia da ficcionalidade das obras, não se atendo, nesse caso, às maneiras como a ficção se conecta com a realidade e a imaginação (ISER, 2013). Com relação às narrativas midiáticas, vale ressaltar o sentido de continuidade que apresentam nos vínculos que explicitam ter com obras anteriores, com as contemporâneas e incluso com o que está em gestação: no dizer de Dufrenne (1982, p.16), a obra nova “[...] abre uma história: vem dar sentido às obras precedentes e reclama outras obras que permitirão compreendê-la à força de a retomarem, e que acabarão por se desligar dela”. No caso das obras adaptadas, esse vínculo é, mais uma vez, duplo: com a tradição do campo artístico e com as questões temáticas e estilísticas de seu tempo, por um lado, e com o texto-fonte do qual se deriva e com o qual necessariamente realizará um debate de ideias, por outro. Nesse caso, portanto, há uma articulação entre as questões (matrizes que se articulam em memória cultural) presentes no espaço-tempo de criação da obra com o debate que estabelece com o espaço-tempo (como memória cultural) da obra anterior, o que implicará em uma combinação de resgate e atualização. Somados a isso, a intenção narrativa da obra expressa seus criadores e às imagens de público que busca interpelar, suas competências, gostos e interesses, que se relacionam, também, a uma espacialidade e a uma temporalidade na qual as matrizes se plasmam como memória cultural. A questão posta nesse trabalho, então, é a relação entre as matrizes culturais e os formatos industriais (MARTÍN BARBERO, 2003) em filmes que, como Cabeça a Prêmio, lançam mão de tradições genéricas que aludem à memória cultural do popular global, associadas com uma matéria da representação que introduz matrizes culturais diversas, combinando o típico, a convenção, com o regional e o específico, o que indigeniza (LULL, 1997) aspectos da narrativa proposta. Desde o modelo das mediações, de Martín Barbero, esse estudo analisa os aspectos temáticos e genéricos da transposição que Cabeça a Prêmio faz do romance homônimo, de Marçal Aquino, para o audiovisual, de Marco Ricca. Entre os aspectos tratados estão a intermidialidade, a intertextualidade, a porosidade e a atualização que o audiovisual realiza para representar – como tratamento fílmico - e propor uma representação a partir dos conflitos e atores sociais em uma narrativa de gênero. A análise contrapõe o filme a outros três, desde seus aspectos temáticos e composicionais, que são: Os matadores, de Beto Brant, também adaptado de um conto de Marçal Aquino; The Killers, de Don Siegel, adaptado de um conto de Ernest Hemingway, e L’Assassino, de Elio Petri. |
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Bibliografia | AQUINO, Marçal. Cabeça a prêmio. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. |