ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Kisteha: mídias indígenas e política na aldeia Kalapalo Aiha |
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Autor | Thomaz Marcondes Garcia Pedro |
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Resumo Expandido | A partir de estudos de campo que envolveram oficinas de produção audiovisual realizadas desde 2015 na aldeia Aiha Kalapalo, no Território Indígena do Xingu (MT), a presente comunicação se propõe a olhar para o papel das mídias indígenas (Ginsburg, 2002) tendo como ponto de partida o videoclipe musical do rap Kitseha (2018, disponível em: https://vimeo.com/300592324). A gravação do videoclipe foi feita durante o segundo turno das eleições brasileiras de 2018, resultado da mobilização de alguns indígenas buscando se posicionar politicamente contra um retrocesso aos seus direitos. A letra da música trata de um possível esgotamento de recursos naturais e faz criticas diretas a Jair Bolsonaro. Entretanto, alguns aspectos presentes no vídeo, como jovens vestindo bermudas, a linguagem corporal mimetizando a forma de se cantar rap e a própria música não-indígena não foram aceitas por algumas lideranças da aldeia, que inicialmente discordaram da divulgação do material. Apesar de concordarem com a crítica e posicionamento político, esse grupo via a possibilidade de ampla circulação do vídeo na internet com preocupação, pois consideravam que o videoclipe não seria uma representação do que eles consideraram a forma “tradicional” de seus modos de vida para ser apresentada fora da aldeia. O videoclipe de um rap contrastava com um outro tipo de uso mais corrente do vídeo na região, voltado para o registro de rituais e que são entre os kalapalo considerado uma forma de tisügühütu ongitelü, ou seja “guardar nossa cultura”, na língua kalapalo (Fausto, 2011). A partir de uma série de discussões no centro da aldeia que levavam em consideração a importância de um posicionamento público frente aos retrocessos e também rearticulações das noções de “cultura” e “tradição” (Cunha, 2009), decidiu-se pela divulgação do vídeo. Considerando o videoclipe Kitseha como uma produção audiovisuais resultado de processos de produção partilhada do conhecimento (Bairon e Lazaneo, 2013) e de antropologia compartilhada (Hikiji, 2013; Rouch, 2003), acreditamos, assim como Stam e Shohat (2005) que sociedades que foram historicamente marginalizadas em termos de representação passam a contar suas histórias dos seus pontos de vista a partir da apropriação de dispositivos midiáticos. Vale buscar compreender algumas questões a partir dessa apropriação: em quais situações a produção audiovisual é considerada pelos kalapalo uma forma de tisügühütu ongitelü? Em quais situações o vídeo pode ser indesejado porque apresenta formas não tradicionais da vida Kalapalo? Acredito que o audiovisual tem sido usado de diversas maneiras entre os Kalapalo, e recentemente tem tomado um viés mais politizado em contraste com uma noção mais documental de preservação da memória e do modo de vida. Nesse sentido acredito que o audiovisual possa ser um recurso para produzir coletividades diferentes, que se reajustam frente a diferentes necessidades políticas. |
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Bibliografia | BAIRON, Sergio; LAZANEO, C. S. . Produção Partilhada do Conhecimento: Do filme à Hipermídia. 1ed.São Paulo: 2013 |