ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | O espectador no cinema indígena: entre a mediação e o antagonismo |
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Autor | Fabio Geovanni Gomes Teixeira Costa Menezes |
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Resumo Expandido | Partindo da análise de um conjunto de filmes realizados em regime(s) de colaboração entre realizadores indígenas e não indígenas, no âmbito do projeto Vídeo nas Aldeias (VNA) - "A arca dos Zo’é" (1992), "Marangmotxíngmo mïrang, das crianças Ikpeng para o mundo" (2001), "Kuhi ikugu - os Kuikuro se apresentam" (2006), "Bicicletas de Nhanderu" (2011), "Ujirei" (2016) e "Virou Brasil" (2019) - este trabalho se propõe a refletir a cerca dos modos pelos quais este nascente gênero que chamamos de cinema indígena imagina o seu espectador. Tal cotejo nos sugere também uma trajetória histórica desta filmografia, que matiza e diversifica qualquer resposta que possamos imaginar para a pergunta que encontra formulação, pela primeira vez, no artigo de Pat Aufderheide "Vendo o mundo do outro, você olha para o seu: a evolução do projeto Vídeo nas Aldeias", de 2008: “a quem se destinam estes filmes?”. Para além de um primeiro espectador “doméstico” - aquele que pertence à etnia ou comunidade dos realizadores, que não raro é também colaborador e/ou se verá filmado na tela - cada filme também se constrói, de modo inevitável, a um espectador “externo” (de outra etnia, não indígena, estrangeiro etc.) numa relação cujo ponto de partida será sempre a alteridade. Se os filmes pioneiros do VNA apresentam-se, de maneira evidente, subordinados a um projeto pedagógico-ativista que busca situar, educar e engajar quem os assiste a partir de estratégias de linguagem que se ancoram na objetividade, na identificação e na mediação desta alteridade, na criação de empatia e cumplicidade entre o espectador e os sujeitos na tela, certos filmes mais recentes do projeto podem ser tomados como experiências de ruptura com este modelo “de inclusão” na medida em que abrem mão de contextualizações ou explicações didáticas, constroem-se de maneira fragmentária, elíptica, ou então interpelam diretamente o espectador, apontam a câmera para o mundo dele (o dos não-índios) devolvendo-lhe o olhar e invertendo o vetor do discurso: se o efeito daqueles primeiros é o de elaborar um lugar de fala para os cineastas indígenas, podemos entender o dos mais recentes como sendo o de elaborar, sobretudo, um lugar de escuta para esse espectador. |
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Bibliografia | ARAÚJO, Ana Carvalho Ziller; CARVALHO, Ernesto Ignacio de; CARELLI, Vincent (Orgs.) Vídeo nas Aldeias 25 anos: 1986-2011. Olinda/PE: Vídeo nas Aldeias, 2011. |