ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Performance pornocultural no Facebook: as SuicideGirls |
|
Autor | Marjulie Angonese |
|
Resumo Expandido | Garotas rebeldes, que cometeram suicídio social ao tatuarem o corpo, pintarem seus cabelos de azul ou rosa, inserirem piercings e disporem fotos e vídeos sensuais. Esse é o produto que o site norte-americano SuicideGirls vende aos seus assinantes. Para as modelos, no entanto, a empresa vende uma chancela, um capital social, nos termos de Bourdieu (1998). Para atrair usuários pagantes, o SuicideGirls tem perfis em diversas redes sociais, entre elas, o Facebook, onde as modelos fazem vídeos gratuitos que foram objeto da Dissertação de Mestrado intitulada Pornocultura e feminismo: as SuicideGirls ao vivo no Facebook. Na pesquisa, foi realizada a análise de discurso, com base em Pêcheux (2015), de entrevistas semiestruturadas e de transmissões ao vivo de quatro modelos SuicideGirls. Os resultados dispostos neste trabalho serão aqueles relativos ao domínio da performance (SCHECHNER, 2003; GOFFMAN, 2002). Produto da modernidade tardia – nos termos de Hall (2004) –, o Facebook pode ser considerado como enlace entre o ethos compreendido por Maffesoli (1996) como a ética da estética, a interação e a performance, a pornocultura (ATTIMONELLI; SUSCA, 2017) e a pornificação de si (PAASONEN, 2016). Em virtude da política da plataforma, os vídeos do Facebook não apresentam nudez, no entanto, as performances das jovens são consideradas pela pesquisa como pornoculturais, já que parte da audiência é formada por pessoas que querem vê-las ao vivo nuas, pois já as consumiram dessa forma em fotografias no site. Nas transmissões pesquisadas, três das quatro modelos apresentam visual infantilizado e doméstico (pijamas, meias coloridas com estampas infantis, cabelos divididos ao meio e amarrados em maria-chiquinha), mas decotes profundos. Três vídeos ocorreram em seus quartos, sendo que dois deles tinham, no cenário, elementos também infantis. Nenhuma mostrou, apesar das centenas de pedidos, qualquer parte íntima, como nádegas, seios ou vaginas. Todas incentivaram a realização de perguntas sobre suas vidas, gostos, carreiras como SuicideGirls, e mostraram suas tatuagens quando solicitadas. Suas conversações com os espectadores foram no sentido de simulação de intimidade, de convite para que participassem mais de sua vida a partir da assinatura do site SuicideGirls. Podemos compreender a pornografia soft como imersa, produtora e produzida na e pela sociedade do espetáculo. As modelos entrevistadas fazem parte do que a pesquisa entende como uma remodelação do conceito de sociedade do espetáculo preconizado por Debord (2003). Nesse sentido, todas têm perfis no Instagram, onde promovem suas carreiras para além do site SuicideGirls. Com milhares de seguidores no Instagram, todas apresentaram, em maior ou menor escala, o desejo de serem influenciadoras digitais (KARHAWI, 2017). Os discursos das entrevistadas apontam para o fato de que ser uma SuicideGirl é uma chancela econômica: a empresa empresta a elas o poder (FOUCAULT, 1999) para que atinjam a importância digital necessária para chamar a atenção de marcas que queiram contratá-las para publicidade. Esse pensamento é sintetizado pela seguinte afirmação de uma das participantes: “o SuicideGirls não te paga um salário, mas ele te abre portas para o mercado de trabalho”. Muitas mulheres pagam para terem seus ensaios no site, mas nem todas passam pelo controle de qualidade para que sejam publicadas. Como diz Debord (2003), a (boa) aparência é o denominador comum da sociedade do espetáculo. Nesse sentido, o “selo” SuicideGirl pode ser um endosso de que quem o ostenta faz jus aos padrões do site e, por isso, agregaria valor a qualquer marca. Apesar disso, as garotas demonstram em seus discursos um conflitante desejo de não terem seus corpos considerados mercadoria pornificada – nenhuma delas conectou seu trabalho no site à pornografia. |
|
Bibliografia | ATTIMONELLI, C.; SUSCA, V. Pornocultura: viagem ao fundo da carne. Porto Alegre: Sulina, 2017. |