ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Em busca da amizade no cinema brasileiro LGBT+ |
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Autor | Haroldo Ferreira Lima |
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Resumo Expandido | A pesquisa segue pistas deixadas por trabalhos históricos e antropológicos (GREEN: 2000; PERLONGUER: 2018) sobre as experiências LGBT+ no Brasil do século XX, bem como a ideia de amizade como modo de vida (FOUCAULT: 2012), já indicada em algumas produções brasileiras contemporâneas (LOPES: 2016), para tratar das potências estético-políticas da amizade no cinema cuir brasileiro. Abordada enquanto campo relacional rico para a realização e para se pensar as experiências dissidentes no fílmico, tratamos a amizade em suas potencialidades para promover cuidados, estratégias de sobrevivência e de intensificação de prazeres. Com a pesquisa buscamos cartografar práticas de realização coletivas como as da Surto e Deslumbramento com a A Seita (André Antônio, 2015) e filmes brasileiros contemporâneos que colocam relações extra-familiares em operação ao tensionar a representação cisgênero, branca e de classe média do homoerotismo masculino, vista a partir da retomada (LACERDA JUNIOR: 2014). Com ela, buscamos traçar um mapa que deixe ver como o cinema tem se colocado em resistência aos regimes de visibilidade da heteronormatividade. Buscamos em filmes que colocam a amizade em operação, dessa forma, as afecções, os desejos e os prazeres envolvidos na realização, nas relações encenadas pelos filmes e, inevitavelmente, discutir com o corpo fílmico as estratégias poéticas visionadas neles, seja quando abordam o campo semântico do cuir, seja quando avançam sobre interseções de gênero e raça. A pesquisa inicialmente aborda um grupo heterogêneo de realizações ao elencar obras que re-historicizam a formação personagens ou momentos históricos da experiência dissidente como os longas Madame Satã (Karin Ainouz, 2002) e Tatuagem (Hilton Lacerda, 2014). Numa outra via, longas que buscam na afetação e no artifício e encenam famílias de amigos como Inferninho (Guto Parente, 2018) ou relações particulares como Doce Amianto (Uirá dos Reis e Guto Parente, 2013) também nos interessam. Com eles, gostaríamos de vislumbrar as potencialidades de, por um lado, imaginar o passado e, por outro, fabular relações futuras sem fidelizações à demarcações realistas. Interessa-nos também filmes como NEGRUM3 (Diego Paulino, 2018). A realização coloca personagens não binárias e lacrativas, mostram as relações extra-familiares e os espaços de sociabilidade prazerosos e de afirmação da experiência diaspórica ao perscrutar a singularização da artificialidade, da precariedade e do afrofuturismo. Com ele questionamos como viver o presente e imaginar o futuro quando as distopias do fim do fundo parecem ter se instaurado há séculos no mundo pós-colonial. São imprescindíveis as estratégias de cuidado vistas em curtas como Tea For Two (Julia Katharine, 2018) e Eu Preciso Dizer Que Te Amo (Ariel Nobre, 2018), dirigidos e interpretados por pessoas trans. As realizações lançam olhares novos para a vidas no limiar da precariedade. Tais estratégias de cuidado também podem ser vistas sob outro prisma em Tinta Bruta (Filipe Matzembacher, Marcio Reolon, 2017). O longa nos parece especial por mostrar reações mais frontais à LGBTfobia e deixar pistas sobre um resistir mano a mano e seus impactos. Ainda, cabe acompanhar a pequena parcela de filmes de realizadoras lésbicas e as encenações dessas experiências. Dessa safra, destacamos Latifúndio (Érica Sarmet, 2017) filme experimental pós-pornográfico que evidencia os prazeres de uma multiplicidade de corpos e sensorialidades e, numa outra via, o compartilhamento de vivências e o forte exercício de escuta entre as personagens de Quebramar (Cris Lyra, 2019), num arrefecer na praia. A partir dessa breve apresentação gostaríamos de lançar um olhar sobre e averiguar como essas relações constituem resistências menores com o cinema brasileiro. |
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Bibliografia | FOUCAULT, Michel. Da amizade como modo de vida. Entrevista de Michel Foucault a R. de Ceccatty, J. Danet e J. le Bitoux, publicada no jornal Gai Pied, no 25, abril de 1981, pp. 38-39. Tradução de Wanderson Flor do Nascimento. In: http://bit.ly/1FvN1N7. Acesso em 17/07/2018. |