ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Meninas no documentário brasileiro: visibilidade de vozes e corpos |
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Autor | Letizia Osorio Nicoli |
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Resumo Expandido | A análise que será introduzida nesta comunicação tem início a partir de uma longa pesquisa sobre a representação da infância e da adolescência no cinema documentário, iniciada nos estudos de mestrado e aprofundada em minha pesquisa de doutorado. Nesse processo, percebi as particularidades na representação desse grupo específico, que precisa lidar com uma dupla invisibilização: por ainda não serem adultas, e por estarem, desde a juventude, submetidas às relações de gênero culturalmente estabelecidas. Para construir o arcabouço teórico, trago alguns aportes iniciais para o estabelecimento de algumas questões-chave. Em primeiro lugar, considero centrais as observações de Carolina Rocha e Georgia Seminet, que propõem a existência de um “adult gaze” no cinema, a partir do pensamento de E. Ann Kaplan. A compreensão da complexidade de subjetificação da criança (e adolescente), uma vez que esses quase que exclusivamente ocupam a posição de objeto na produção audiovisual, e nunca de produtores, demonstra as diminutas possibilidades desse processo e de como ele depende inteiramente da disponibilidade dos realizadores de promover uma reversão do olhar (2014, p. xii-xiii). Além disso, a construção da identidade das meninas, além do reconhecimento de sua posição de alteridade, passa pela afirmação de oposições: não-adultos, não-homens. Ao mesmo tempo, se tomamos a adolescência como uma etapa de transição - tal como afirmam autores desde Vygostki (apud FREITAS, 1999) a Contardo Calligaris (2000), meninas precisam compreender a si mesmas como sujeitos dentro de um universo adulto do qual começar a fazer parte, de forma cerceada, e ainda identificarem-se com não-mais-criança. Esse processo de descobrimento, quando é descoberto também pelo cinema, como aponta Sue Gillet (2006), pode refletir preocupações (majoritariamente de cineastas mulheres, segundo a autora) acerca de uma performatividade de gênero imposta automaticamente às meninas. Lisa Cartwright (2002) sugere que muitos filmes com preocupação similar à que Gillet se refere documentem meninas em um processo que chama de “coming to voice” - termo que podemos relacionar com o conhecido “coming of age” da adolescência, tão abordado pelo cinema ficcional e documental – para definir um processo de obtenção de agência, em que o sujeito que fala é compreendido como alguém que foi silenciado ou invisibilidade. Por outro lado, a compreensão e a agência sobre o próprio corpo também ocupa um ponto central na forma como meninas são representadas no cinema documentário. Antes de mais nada, a própria sexualidade em desenvolvimento, passa a ocupar um espaço central na vida dos adolescentes, que redefinem suas relações sociais e culturais a partir da redescoberta de seus corpos (RAMOS et all, 2003, p.4). Ainda assim, o controle e a regulação da sexualidade das meninas são, culturalmente objeto de regulamentação da sociedade e, no fundo, do próprio Estado. Assim, compreende-se que se espere que o documentário, como enunciação de adultos, também adote a posição de juízo e tutela sobre corpos femininos adolescentes. No entanto, a partir das considerações de Vygostki, o papel da sexualidade na formação identitária adolescente e sua expressão estão de tal forma imbricados que dificilmente se pode reprimir o primeiro e esperar obter a segunda. Os quatro filmes que trago para a construção desta análise apresentam diferentes formas de lidar com a representação de meninas sobre seus corpos e sobre o lugar que ocupam na sociedade. Meninas (Sandra Werneck, 2006) e A falta que me faz (Marília Rocha, 2009) dedicam-se exclusivamente a retratar jovens meninas no início de suas vidas sexuais, enquanto que Criança, a alma do negócio (Estela Renner, 2008) e Eleições (Alice Riff, 2019), ambas produções ligadas ao Instituto Alana, trazem, em meio a diversos personagem, duas situações de meninas adolescentes que nos interessam para esta comunicação. |
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Bibliografia | CARTWRIGHT, Lisa. “Film and the Digital in Visual Studies: Films Studies in the Era of Convergence”. In: Journal of Visula Culture 1, nº 1, 2002. |