ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Fome, peste, guerra e morte: o cinema em Manaus durante a I Guerra |
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Autor | Alan Gomes Freitas |
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Resumo Expandido | Manaus inicia o século XX com luz elétrica instalada, intensa circulação de barcos a vapor e uma mudança radical em sua visualidade com melhoramentos urbanos e características cosmopolitas, tendo sua população ampliada e a introdução de elementos e costumes de origens diversificadas. Em pouco mais de dez anos, essa pujança econômica dá lugar ao terror de uma crise com ares apocalípticos. Milhares de trabalhadores abandonam seus postos de trabalho nos rincões do estado, e avançam para a capital, com suas fomes, suas doenças e caindo mortos sucumbindo ao cenário de misério. É essa capital, que recém vivenciou um mergulho na modernidade europeia, passando da condição de simples vila para uma efervescente metrópole, “modernidade” aqui referida não como um período histórico demarcado, mas como mudança nas experiências subjetivas das pessoas, uma “aceleração” das sensações (CHARNEY & SCHWARTZ, 2006). Há nesse indicações de um esforço da elite local em se definir através do seu consumo, tanto na aquisição de bens supérfluos, quando na frequência de espaços de lazer, como nas salas cinema, que se consolidam no fim da primeira década do século XX. Se em um primeiro momento o cinema - ainda ocupando espaços de exibição junto de outras atrações - foi recebido de maneira fria, quase indiferente, talvez pela grande variedade de opções de entretenimento no período, é com a decadência de ofertas – no início dos anos de 1910, que o cinema vai ser reivindicado como espaço de sofisticação na capital (COSTA, 1996). A intensidade da trajetória dessa cidade no período compreendido como belle époque (MESQUITA, 2016) - a população de cerca de 29.000 habitantes em 1872 passou para 61.000 em 1900 -, desperta curiosidade e é objeto de estudos que privilegiam a dimensão econômica, mas é carente de registros na historiografia clássica dos aspectos culturais referentes à essa dinâmica social. Chama atenção no período da I Guerra Mundial (de 1914 a 1918), determinadas mobilizações na imprensa local. Em 1916, o Cinema Polytheama, ao exibir o drama de guerra O patriota francês ou O sacrifício pela pátria, advertia seus frequentadores: “Este filme tem cenas horrorosas de crueldade do inimigo invasor, cenas irritantes e espantosas. Assim sendo, não desejando agitações em seus salões, a empresa pede encarecidamente que os partidários das diversas nações em guerra não compareçam ao espetáculo, desde que não tenham a calma precisa para assistir ao desenrolar deste lindo trabalho” Jornal O tempo, 10.02.1916, p.2 O alerta é curioso por buscar algum tipo de disciplinação do comportamento de frequentadores de cinema, mas não é completamente destoante com outros tipos de alertas ou julgamentos proferidos nas páginas dos periódicos da capital amazonense, que comentavam vestimentas, hábitos, e até a classe de frequentadores de salas. Charney & Schwartz (2006) apontam como o exercício do consumismo foi um dos motores da modernidade, propiciado por um ambiente urbano em que corpos e mercadorias circulam cada vez mais e de forma mais intensa. No entanto, essa mesma modernidade parece carecer de signos e significados, visto que reconfigura a arena de desejos. É então que o consumo assume dimensões outras que não a da fruição privada. É nessa arena que se insere o impulso expresso nestas páginas de buscar diferenciação e demarcações sociais no hábito de frequentar o cinema. |
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Bibliografia | CHARNEY, Leo & SCHWARTZ, Vanessa. O cinema e a invenção da vida moderna. São Paulo: Cosac Naify, 2a edição, p. 33-65, 2010. |