ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Melodrama e sensibilidade gay em Praia do Futuro (2014) |
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Autor | Lucas Hossoe Gomes |
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Resumo Expandido | Esta comunicação centra-se na análise estilística do filme Praia do Futuro (2014, dir. Karim Aïnouz), sob a conjectura do melodrama e da sensibilidade gay. Para tal, segue os preceitos do revisionismo dos estudos melodramáticos apontados por Glendhill (1987) e Williams (1998), que corroboram e expandem os debates iniciados por Elsaesser (1972) e Brooks (1976) de que a operação do pathos melodramático o aproxima mais de um modo narrativo que de um gênero, e suas características de excesso podem ser reapropriadas em uma variedade de gêneros e estilos cinematográficos. A sensibilidade gay, por sua vez, oriunda dos estudos culturais, eventualmente foi incorporada aos estudos cinematográficos (Dyer, 2002). Identificada nesta proposta como uma afinidade com os meios melodramáticos, tem, assim, origem no gênero do melodrama familiar e do woman’s film de Hollywood dos anos 1950 através de algumas práticas. Entre elas o Camp, como aponta Klinger (1994), prática da comunidade gay que via subversão e ironia nos melodramas a partir dos estereótipos de uma sociedade embasada no patriarcado. Por outro lado, uma leitura mais direta também conferia à comunidade gay uma identificação com a subjugação da heroína-vítima através do pathos estabelecido na narrativa. Ao longo dos anos, o melodrama familiar hollywoodiano foi atualizado, reinterpretado em diversas obras de cineastas gays como Rainer Werner Fassbinder, Pedro Almodóvar e Todd Haynes, à medida que as questões de sexualidade se tornaram mais proeminentes no cinema. Pode-se incluir Karim Aïnouz nesta chave de realizadores. Participante ativo do New Queer Cinema, onde mesmo em meio às práticas subversivas da linguagem, havia espaço para a citação do melodrama canônico, Aïnouz destacou-se posteriormente por filmes de estilo mais reflexivo, dificilmente associados ao termo até o lançamento do Praia do Futuro em 2014, de temática gay e identificado como um melodrama masculino. Propõe-se, assim, que a sensibilidade gay confere a Praia do Futuro intertextualidades específicas com o melodrama. A narrativa de deslocamentos e não-pertencimentos do filme, que vê seu protagonista Donato dividido entre o relacionamento amoroso e o relacionamento familiar, remete às premissas de impossibilidade caras ao melodrama do ciclo clássico sirkiano dos anos 1950 e outros cânones do gênero. Mas o filme busca outros posicionamentos que o distanciam do engendramento genérico. O filme segue o salva-vidas Donato em seu ofício na praia em Fortaleza, e em sua subsequente vida em Berlim, e, a cada ação da personagem, o pathos melodramático pode ser aproximado ou distanciado, numa composição dúbia do herói-vítima da forma canônica. Além da construção narrativa, esta comunicação busca analisar as referências visuais da encenação, e suas citações e atualizações às estilísticas melodramáticas, e como esta encenação é essencial à construção visual da homossexualidade representada. Nesta perspectiva, torna-se primordial não só a análise de elementos clássicos da linguagem como ângulos e movimentos de câmera, luz e composição de cores e cenários, mas também a atenção às gestualidades e corporalidades encenadas pelos atores. Busca-se, nestas corporalidades, em especial a do protagonista Donato, interpretado por Wagner Moura, códigos melodramáticos e homoeróticos e suas possibilidades de intersecção. |
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Bibliografia | BROOKS, Peter. The Melodramatic Imagination. Balzac, Henry James, Melodrama, and the Mode of Excess. Yale University Press, 1995. |