ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Perspectivas cruzadas: A poeira não quer sair do esqueleto |
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Autor | Maria Bogado |
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Resumo Expandido | A poeira não quer sair do esqueleto, de 2018, é o primeiro filme da dupla de artistas Daniel Santiso e Max Willa de Morais. Contaminadas por suas pesquisas já em curso acerca das linguagens da performance e da vídeo-arte, as duas se propõem a realizar esse documentário movidas pelas curiosidade de conhecer melhor um lugar, a favela Metrô-Mangueira. Além de ser um ponto emblemático para pensarmos as violências de estado na cidade do Rio de Janeiro, era um local pelo qual passavam cotidianamente em seus fluxos entre a casa e seus espaços de estudo e trabalho. Como revela uma cartela no final do filme, a pesquisa se inicia a partir de buscas de arquivos sobre a região. Resgatam imagens de remoção da Favela do Esqueleto, durante a reforma do estado da Guanabara, promovida pelo governador Carlos Lacerda em 1960. Essas imagens serão as mediadoras de seus encontros com pessoas que atualmente habitam este mesmo lugar, hoje conhecido como favela Metrô-Mangueira, aproximadamente cincoenta anos mais tarde. O método adotado para o encontro – a extração de testemunhos e elaborações acerca do presente a partir da mediação de imagens de arquivo – é diretamente inspirado no dispositivo do filme Retratos de Identificação, 2014, de Anita Leandro e de Peões, 2003, de Eduardo Coutinho. Como nos filmes citados, o registro do momento único do encontro é crucial. A partir da análise desse documentário experimental, gostaria de refletir sobre a experiência da realização cinematográfica, no que tange seu potencial pedagógico e clínico. Realizei entrevistas com as diretoras do filme e com as pessoas por elas filmadas, tentando propor uma investigação que partisse de uma costura de diferentes perspectivas sobre o processo de construção do filme e seus desdobramentos: a perspectiva das diretoras, a perspectiva das pessoas filmadas e a minha perspectiva de espectadora e pesquisadora. As questões levantadas são: o que as diretoras aprenderam de novo sobre a história do lugar que filmam? O que as pessoas que moram lá aprenderam de novo sobre esse lugar? O que ambos os lados aprenderam sobre o fazer cinema? Essa experiência as transformou enquanto espectadoras? As aprendizagens que se deram nesse processo compartilhado abre novas perspectivas para pensarem e elaborarem seus modos de compreensão/invenção de si? Em 2011, durante debate realizado na mostra Cinema brasileiro, anos 2000, Cezar Migliorin afirmava que os filmes da década que seguia aprofundariam e complexificariam a colocação dos problemas acerca da "produção de saber e de sensibilidade através de um relacionamento acontecimental" (MIGLIORIN, 2011). Seguindo essa pista, pretendo verificar como as diferentes perspectivas acerca do processo de "A Poeira não quer sair do esqueleto" mostram conflitos e possibilidades de reelaboração de saberes e subjetivações que sofreram inflexões nos acontecimentos que a filmagem e exibições proporcionaram. Em "O espectador emancipado", Rancière propõe que "Uma comunidade emancipada é uma comunidade de narradores e tradutores.” (RANCIÈRE, 2012, p. 25). Nesse sentido, a comunidade se constrói no conflito produtivo entre as narrações, seja dos diretores ou pessoas filmadas, com os traduções dessas narrativas, seja dos espectadores ou críticos e pesquisadores. Por fim, essa investigação se aproxima do método de Bell Hooks, em seu ensaio O olhar opositor: mulheres negras espectadoras ( HOOKS, 2019) no qual confronta a análise de filmes com a recepção a partir de conversas com espectadoras, buscando verificar os efeitos do cinema para além dos filmes, percebendo como afetam a produção subjetiva dessas pessoas. |
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Bibliografia | LEANDRO, Anita. Montagem e história: uma arqueologia das imagens da repressão. In: ENCONTRO |