ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Ofilmemusical atual apósvideoclipe: o caso Baby drive, de Edgar Wright |
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Autor | Gelson Santana |
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Resumo Expandido | A cultura do videoclipe conferiu outra dimensão aos processos de produção e consumo de filmes hoje. A consequência direta dessa cultura somada a um filme de ação deriva em produções como Baby driver (2017), de Edgar Wright. Em ritmo de fuga (título brasileiro do filme) se apresenta como uma película onde a ação tem o sabor de um videoclipe estendido. De um certo modo podemos dizer que a estrutura narrativa de Baby driver tem a forma de uma canção pop. Isso faz com que o filme se desenvolva como se fosse, simultânea e ambiguamente, um longo filme musical metamorfoseado em filme de ação. Para além da ambiguidade entre os efeitos diegético e extradiegético que o uso da música impõe à narrativa, é possível tomar a película a partir de duas instâncias: a) os momentos em que o filme se comporta feito um videoclipe; e b) os momentos em que a narrativa se coloca de fora de uma aparente estrutura de videoclipe – neste momento, ao modo de uma canção pop (quando os solos dos instrumentos ocupam os espaços da voz), o extradiegético entra em primeiro plano e controla a evolução da história. Essa estrutura lembra a de uma canção pop na qual a primeira parte nos prepara para o refrão que vem antes da segunda parte (exemplo: Baby vê Debora, a futura garota dos seus sonhos, passar com fones de ouvido andando ao ritmo da música que está cantarolando). Na segunda parte Baby corteja a garota e isso começa a se misturar e interferir diretamente em sua performance de “driver” (entra em cena algo como o amor). Quando ele e a Debora se acertam (depois que ouvem na lavanderia Debora, de Marc Bolham, na com a banda T.C. Rex), sua performance como driver fica comprometida. Isto vai levar a parte final da canção-filme: Baby e Debora juntos tentando escapar de um mundo selvagem e sem amor, neste momento o refrão é repetido de maneira acentuada (Baby preso encontrou a garota dos seus sonhos que no mundo lá fora espera por ele; na cadeia ele recebe dela uma carta com postal da Route 66 e empreende uma fuga pela imaginação). No modo refrão o mundo dos sons ambientes predomina junto com uma espécie de chiado dos ouvidos de Baby. Observa-se que o prólogo do filme expõe diretamente as cartas da narrativa carro-motorista-banco (roubo); o ritmo Bellbotoms [(Judah Bauer, Russell Simins, Jon Spencer) com The Jon Spencer Blues Explosion] (ação: espera-fuga); o personagem central (o ponto de vista que faz com que todos os personagens convirjam para um mesmo lugar) – isto fundindo pelo menos dois elementos essenciais, musical-suspense ao ritmo narrativo das canções do iPod. Apesar de Edgar Wright definir o filme Baby drive como “um filme de ação movido pela música”, o efeito filme musical é uma experiência que navega entre o visível e o lisível. Tomando o conceito de síncrise, de Michel Chion, a partir de um sincronismo diegético/extradiegético entre imagem/som é possível observar uma espécie de carnavalização, por exemplo, na sequência onde a música Tequila (Chuck Rio), com The Button Down Brass e “The funky trumpet” de Ray Davies como interprete, é o leitmotiv musical para um sonoro e violento tiroteio que joga ambiguamente com o ponto de vista diegético do iPhone de Baby mais o ambiente sonoro do tiroteio e explosão e, em alguns momentos na cena, a música se torna extradiegética mesmo estando em segundo plano. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. Sobre a história do estilo cinematográfico. Campinas (SP): EdUNICAMP, 2013. |