ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | MONTAGEM AUDIOVISUAL ENTRE O OLHAR E A IMAGEM |
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Autor | Elianne Ivo Barroso |
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Resumo Expandido | Jacques Aumont no breve ensaio 'Montage “la seule invention du cinéma”' (2015) recupera a
importância histórica da articulação dos planos cinematográficos e aborda alguns aspectos da contemporaneidade que colocam em cheque uma estética que permitiu o florescimento da ficção, do documentário e da poesia no cinema. Para Aumont, este declínio da montagem cinematográfica está relacionado ao culto da imagem difundido pelo digital seja pela propagação de selfies nas redes sociais ou pela valorização da interatividade tanto em videojogos como em narrativas audiovisuais não-lineares. Para o autor, “o cinema era antes de tudo uma história do olho: questões de ponto de vista, de perspectiva, de agenciamento cênico, ou seja, questões do olhar” (p.95). Nesta disputa entre olhar e imagem, interessa-nos saber como a bibliografia dos últimos dez anos sobre a montagem, em especial na França, enfrenta esta situação na qual pouco restou do rigor e da coerência do cinema de outrora e que agora prevalece uma grande liberdade em montar tudo o que foi registrado. Para este estudo, queremos analisar escritos de três autores entendendo como estas produções abordam a montagem e buscam trazer um conceito que ultrapasse a suspeita de Aumont. Ou seja, de que a montagem efetivamente sobreviveu ao tempo e pôde perdurar. Primeiramente trataremos do artigo de François Albera (2011) "The Case for an Epistemography of Montage. The Marey Moment" (ALBERA e TORTAJADA, 2010, pp. 59-78 ). O autor tenta distinguir o discurso tecnico-estético sobre a montagem do discurso da crítica e dos estudos de cinema. O objetivo é delimitar campos de aplicação dos conceitos e regras de montagem identificando as transformações e variações dos mesmos. Em segundo lugar, discutiremos o trabalho de Dominique Chateau, "L’invention du concept de montage: Lev Koulechov, théoricien du cinéma" (2013). Neste caso, a proposta é compreender como a prática da montagem se tornou um conceito fundamental para a teoria do cinema. Chateau recupera as ideias de Koulechov e atribui ao diretor soviético um lugar de destaque para a invenção do conceito de montagem. Por fim, iremos nos debruçar sobre o livro de Théresa Faucon "Théorie du montage. Enérgie, force et fluides" (2013). Influenciada pela proposta de pensar as ciências humanas a partir das ciências duras, a autora faz um paralelo entre a montagem e a noção de energia com o intuito de explicar a circulação e a força que une os planos audiovisuais. Da mesma forma que a energia é ‘irrepresentável’ o mesmo se diz da montagem audiovisual. Conhecemos apenas os efeitos de ambas. Faucon trabalha de forma original noções científicas com textos sobre cinema que vão de Dziga Vertov com o conceito de ‘intervalo’ até o de Jean Epstein que escreve sobre a ‘fotogenia’. Preliminarmente concluímos que em comum os três autores buscam responder à pergunta fundadora sobre o tema: o que é a montagem? Albera e Chateau tentam desmembrar a confusão gerada entre prática e teoria de montagem para justificar atemporalidade e subjetividade do gesto. Para tanto o primeiro foca sua pesquisa nos trabalhos do fisiologista Jules Marey realizados ainda no pré-cinema. Já Chateau faz uma genealogia do termo montagem e vê nas experiências de Koulechov fortes indícios para a vinculação e o conflito entre o fazer e o pensar montagem. Mesmo se Faucon não trate diretamente desta oposição, ela parece interagir com o problema quando pensa em propor uma teoria que dê conta do princípio propulsor da montagem para além das suas funções estéticas, plásticas ou rítmicas. Mesmo se os três escritos não façam alusão ao pessimismo de Aumont sobre "os destinos da montagem", eles tentam refletir sobre como é preciso se desvincular da prática ou de uma determinada periodização do cinema e vislumbrar uma teoria da montagem mais interessada em compreender o que se passa entre os elementos audiovisuais. |
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Bibliografia | AUMONT, J. Montage “la seule invention du cinéma. Paris: Librairie Philosophique J. Vrin,
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