ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Cidades da diáspora africana e a criação de imagens cinematográficas |
|
Autor | Aida Rodrigues Feitosa |
|
Resumo Expandido | O cotidiano da vida nas cidades está presente desde os primórdios da experiência fílmica . O
movimento das ruas e das casas, as paisagens, as arquiteturas, as luzes da cidade sempre atraíram as lentes cinematográficas. A cidade é uma realidade em movimento, em fluxo contínuo que acompanha e molda o cotidiano de seus moradores. A construção de afetos, subjetividades e imaginários acontece nos seus espaços públicos e privados, no centro e nas periferias, nas multidões e na solidão. Nos filmes do norte-americano Charles Burnett e do brasileiro André Novaes podemos perceber essa construção formatando imagens cotidianas de negritude que dialogam tanto com as pessoas que vivem nas cidades retratadas quanto com diversas outras cidades pelo mundo. A crônica do cotidiano no gueto negro inaugura um mundo sensível particular dentro das casas que estão sempre em relação com a cidade, o bairro, a rua. “A cidade é, hoje, o lugar onde acontece a cotidianidade e a vida coletiva: habitamos nela e de uma maneira ou de outra somos a unidade mais básica de sua estrutura, essa vibrante célula que interage com ela enquanto a molda a cada dia.” (GOMÉZ;PAVÉS, 2014, p.9). Essa forma de vida cotidiana que se passa dentro da cidade é apresentada nos filmes Um bocado de amigos (1969) e O matador de ovelhas (1977), de Charles Burnett, e, Quintal (2015) e Ela volta na quinta (2014), de André Novais. O presente seminário pretende analisar esses filmes relacionando a corporalidade dos personagens com o espaço vivido. O que aproxima de forma indelével o cineasta negro do Brasil e dos Estados Unidos é a identidade racial, que, num primeiro momento, pode ser descrita por características fenotípicas, entretanto, como vivência social e representação cinematográfica, instauram-se outros significantes. Segundo Munanga (2009, p. 20), a negritude e/ou a identidade negra se referem à história comum que liga, de uma maneira ou de outra, todos os grupos humanos que o olhar do mundo ocidental branco reuniu sob o nome de negros. A negritude se mostra como um dos antídotos contra as duas formas de perda de identidade: seja por segregação cercada pelo particular, seja por diluição no universal .(CÉSAIRE, 1987, apud MUNANGA, 2003, p. 21). Burnett e Novais nos oferecem uma narrativa visual para a qual podemos lançar um olhar múltiplo entrelaçando uma rede de conexões entre as pessoas, os fatos e as coisas do mundo. Ao revelar potencialidades de sentido para o cotidiano apresentado nos filmes percebemos uma estética particular que tem aproximações, distanciamentos, raccords, movimentos de câmera que liga o corpo dos personagens ao espaço filmado em dinâmicas que aproximam os dois diretores. Essa aproximação é possível ser analisada pela experiência comum da diáspora africana nas Américas que resultaram em bairros habitados majoritariamente pela população Afro- descendente. Tanto Watts, em Los Angeles, quanto Amazonas, em Contagem, grande Belo Horizonte são bairros periféricos que foram filmados e habitados pelos diretores. A relação dos personagens, da casa e do bairro revela imagens de pessoas negras longe dos esteriótipos que a indústria cinematográfica utiliza até os dias de hoje. (BOGLE, 2016, p.83) |
|
Bibliografia | AUMONT, Jacques. Les Théories des Cinéastes. 3 ed. Paris: Armand Colin, 2015.
|