ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | DOCUMENT[AÇÃO] PARATEXTUAL: TEORIA DE CINEASTAS E CRÍTICA GENÉTICA |
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Autor | Cristiane do Rocio Wosniak |
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Resumo Expandido | A partir de uma carta que o cineasta endereça à crítica de dança Helena Katz [cedida à autora da investigação] e da carta de montagem do documentário Lia Rodrigues: Canteiro de Obras (2010), encaminhada ao cineasta montador do filme, Willen Dias, busca-se evidenciar traços teóricos coerentes nos objetos empíricos da investigação – atos escritos/cartas e ato artístico/filme – o que pode contribuir para a sistematização de argumentos que se transformam em teoria colocada em praxis cinematográfica e vice-versa. Jacques Aumont em A Teoria dos Cineastas (2004) discute a complexa relação entre a teoria constituída pelo/no ato fílmico em si e aquela enunciada nos textos escritos ou verbalizados em entrevistas, pelos próprios cineastas, na elucidação de conceitos ou modos de criação. Aumont propõe a questão: todo o cineasta produz reflexão teórica? Cecília Almeida Salles (2017), numa leitura atenta de Aumont, concorda que os cineastas, por ele chamados de teóricos, fazem estas reflexões, porque as enfrentam em nome de uma prática. Entretanto, Salles amplia a discussão asseverando que os documentos de processo também nos levam a uma resposta afirmativa. A autora questiona se todos os cineastas teriam ideias teóricas implícitas ou somente alguns deles as explicitariam? “Sob meu ponto de vista, seria difícil haver cineastas não teóricos. É claro que para aqueles interessados nos processos de criação, a validação de tais teorias, questionada por Aumont, encontra-se no interior do próprio projeto do cineasta.” (SALLES, 2017, p. 70). Tal assertiva também encontra eco em Araújo et al. (2017, p. 31), ao afirmarem que: “o pensamento dos cineastas, a sua concepção de cinema, é uma constante integração de teoria e prática – conceitos que impelem uma determinada praxis; praxis da qual resultam conceitos.” Esta investigação, portanto, reveste-se de um estudo sobre os arquivos de processo de criação de Evaldo Mocarzel, entendendo-os, como afirma Salles (2017, p. 45), como uma necessidade de registro do sujeito criador, oferecendo uma preciosa materialidade para se compreender suas possíveis buscas teóricas: “a relevância desses registros de processos de criação analógicos e/ou digitais está somente se estes são tomados como índices de pensamento em criação.” Se Manuela Penafria destaca não haver hierarquia entre as fontes de pesquisa, a partir da abordagem da Teoria dos Cineastas, pois “em qualquer momento nós podemos encontrar um material que não havíamos pensado encontrar […]. Temos que estar sempre atentos, porque, às vezes, a mais pequena manifestação, o mais pequeno gesto pode ser inspirador” (LEITES; BAGGIO; CARVALHO, 2019, p. 8-9), então, considera-se válido o estudo dos registros de processo de Mocarzel, em cotejamento a excertos do documentário em questão. Neste processo investigativo e abdutivo (em termos peirceanos), acabo por me colocar em relação interpretativa direta com a sua produção teórico-prática e, neste momento, também me transformo em uma espécie de mediadora de fontes diversas não hierarquizadas. Este raciocínio sobre a produção – conjunta – do conhecimento pode ser corroborado a partir das premissas da abordagem de pesquisa calcada na Teoria dos Cineastas que assegura ser esta dinâmica composta por uma “constante interação entre o cineasta que se refere à sua própria obra enquanto criador e enquanto espectador e o investigador que não sendo apenas espectador é, também, um criador já que na sua relação com uma obra, também colabora com sua construção.” (BAGGIO; GRAÇA; PENAFRIA, 2015, p. 22). |
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Bibliografia | AUMONT, J. As teorias dos cineastas. Campinas: Papirus, 2004.
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