ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Leituras bachelardianas em Me Chame Pelo Seu Nome |
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Autor | Wendell Marcel Alves da Costa |
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Resumo Expandido | Me Chame Pelo Seu Nome (Luca Guadagnino, 2017) foi um filme esperado. A obra melodramática possui personagens enigmáticos e os lugares em que a história se passa é um local de significação para os acontecimentos da história. Este trabalho faz uma leitura bachelardiana com base em uma análise fílmica de um filme potente, repleto de símbolos e alegorias dos sentimentos e pensamentos dos personagens. Gaston Bachelard, autor central deste trabalho, é um filósofo que discute em seus livros a água, o fogo, a terra e o ar como substâncias oníricas do pensamento poético e imaginativo. Em sua perspectiva, a água e o fogo reservam o imaginário do mundo e das coisas, contem poeticidade e veiculam sentidos sobre a materialidade dos objetos. Para nós, sua teoria da poética das imagens (BACHELARD, 1998, 1988, 1993, 1994, 1989) pode contribuir para interpretar a dimensão simbólica e imaginativa com que o filme de Luc Guadagnino representa sentimentos e ideias sobre o mundo e as coisas. Esta hipótese de trabalho é um procedimento adotado desde o mestrado em Antropologia Social, e segue no doutorado em Sociologia, com a intenção de fazer uma pesquisa socioantropológica de envergadura filosófica em filmes de ficção (CABRERA, 1999). De fato, é revelante requerer uma abordagem interdisciplinar com objetos empíricos simbólicos, sociais e políticos, e as Ciências Sociais podem servir como campo de interpretação das construções dos mundos imaginários nos filmes de ficção (MARTINS, ECKERT, NOVAES, 2005). De forma resumida, o longa-metragem de Guadagnino, roteirizado por James Ivory, conta a história de Elio, um jovem que vive com seus pais no norte da Itália. O filme se passa no ano de 1983, e mostra a cultura italiana da época, as pessoas e os costumes, o idioma e as misturas com outras línguas e nacionalidades, a paixão por literatura, música, cinema, escultura, história e culinária da família de Elio. Com a chegada de Oliver, muita coisa muda. Sua persona simpática e enigmática, arrogante e presunçosa encanta tanto os pais de Eliot como o próprio menino e os moradores da região. É nesse cenário que o filme explora situações como a descoberta da sexualidade, os sonhos de vida, a Beleza e a existência dos personagens. O filme adota elementos como imaginação, onírico e poética a partir da construção da narrativa e do jogo com figuras arquetípicas e simbólicas da humanidade. Por exemplo, as esculturas que Oliver e o professor Perlman catalogam por semanas, na casa e no mar, repercutem a imagem de sensualidade e sexualidade. A maioria das esculturas mostradas no início do filme e nas chapas analisadas por Oliver e Perlman são de homens gregos, nus, com músculos esculpidos com perfeição. Há um apelo metafórico ao sexo remetendo à sexualidade dos homens das esculturas, trazendo a juventude como o tempo do ápice sexual. Elio entra constantemente como o exemplo humano de representação das esculturas gregas; sempre sem camisa, com traços atenienses, cabelos longos e pretos, é um espelho real daquilo que o professor e o assistente estudam, a escultura de outro tempo. Nesse sentido, a escultura é apenas um dos muitos elementos escolhidos para consubstanciar a trama do filme, assim como a presença quase literal da literatura nos diálogos, a música clássica e original de Sufjan Stevens na trilha sonora, comentários sobre cinema na mesa de jantar. Aqui, quero relatar sobre a potência poética e imaginária da água e do fogo, elementos sempre presentes em Me Chame Pelo Seu Nome, como nas cenas dos rios, do mar, das bebidas e da fogueira e da chama da chaminé. É desse olhar bachelardiano dos elementos naturais que falo acerca da trama cinematográfica e como eles servem como signos alegóricos de sentimentos, como os desejos de Elio e o medo de Oliver, os dois protagonistas, dentre outras especialidades contextuais referentes aos espaços da casa e da cidade representadas no longa-metragem. |
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Bibliografia | BACHELARD, Gaston. A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. São Paulo: Martins Fontes, 1998. |