ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | O filme Biutiful e a imagem-cristal |
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Autor | Lorena da Silva Figueiredo |
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Coautor | Dandara Ferreira |
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Resumo Expandido | O presente artigo busca realizar uma reflexão a partir da problematização da noção de imagem-cristal por Gilles Deleuze como uma chave de abertura através do filme de ficção Biutiful (2010) de Alejandro Inñaritu. Neste diálogo, as conexões filosóficas se conectam a produção de sentidos por meio do destino das imagens criadas pelo uso estético da fotografia em revelar zonas entre o mundo visível e invisível na história de Uxbal. Desta forma, estabelecemos uma articulação com pensamento de Gilles Deleuze, Jacques Rancière, Jacques Aumont, Phillipe Dubois para a fundamentação da análise da imagem do filme. O filme Biutiful, de Alejandro González Iñárritu, conta a história de Uxbal, um homem com câncer terminal, que busca uma redenção antes da sua morte. Uxbal vive entre as memórias do passado; o presente com a doença e o futuro com sua morte iminente. Pai de dois filhos, se preocupa com o futuro deles, na medida que os cria sozinho, já que sua ex-esposa é bipolar. Com uma forte ligação com o mundo espiritual, Uxbal ajuda familiares que recém perderam algum ente a acharem seu caminho. E ganha a vida explorando o trabalho de imigrantes para fabricação de produtos falsificados. Mas, ao mesmo tempo, se vê numa dualidade na medida em que se preocupa com a situação física desses mesmos imigrantes. A narrativa do filme é cronológica, com exceção do prólogo, que relata um acontecimento posterior. Já, introduzindo um regime de imagem articulado pela fotografia e a montagem na obra do cineasta mexicano gerando relações. Segundo Rancière, a imagem nunca é uma realidade simples. As imagens do cinema são antes de mais nada operações, relações entre o dizível e o visível de jogar como antes e o depois, a causa e o efeito. (RANCIÈRE, 2012, p.14) Sendo assim, Biutiful possui uma atuação semelhante a um dispositivo neste jogo entre o virtual e o atual; real e imaginário; emergindo um comportamento de imagem-cristal. Para Deleuze, a imagem-cristal é biface, atual e virtual, presente e passado: o presente que passa coexiste com o passado que se conserva. Ou seja, o que se vê no cristal é o tempo não-cronológico. A cena da morte do protagonista deixa evidente o significado de uma imagem-cristal, na medida em que realidade, imaginação e memória se confundem; e, da mesma forma, o tempo também se confunde. De acordo com ele, o filme é como a memória, o que se vê na tela já não existe mais. Embora o tempo esteja no passado, o ato da fruição também dá ao cinema a possibilidade de simular uma ilusória “atualidade”. Desta forma o cinema tem como função o armazenamento da memória em movimento. Não somente no sentido das imagens, mas da própria memória que com o tempo vai modificando o seu olhar sobre o passado. Acreditamos que esta obra cinematográfica constitui-se em um mapa aberto e não se cessa as subjetividades em sua análise pela imagem-movimento. Ao partirmos desta noção de imagem-cristal atrelada à angústia vivenciada por Uxbal na construção de um sujeito que se afeta as memórias entre o passado e o presente visando novas reflexões articuladas pela linguagem cinematográfica através da estética e plasticidade criadas pela fotografia do filme. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. A Análise do filme. Edições Texto & Grafia, Lisboa. 3a ed, 2004. |