ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | A "ironia inclusiva" e “antiphrasis" - Tropos de Peter Tscherkassky |
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Autor | Barbara Bergamaschi Novaes |
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Resumo Expandido | Peter Tscherkassky começou a realizar seus filmes em 1979. Dos cerca de vinte e cinco filmes que compõem sua filmografia, destacam-se: Coming Attractions (2010), que ganhou prêmio de melhor curta-metragem no 67o Festival de Veneza e Dreamwork (2002), premiado com Grande Prêmio no Festival Internacional de Oberhausen. Tscherkassky faz parte de um grupo experimental de vanguarda vienense do qual fazem parte os cineastas Gustav Deutsch e Martin Arnold. Seus filmes se localizam dentro do gênero experimental do cinema de found footage marcados notadamente pela reapropriação e por uma "destruição-criativa" de antigas películas, sejam elas clássicos hollywoodianos ou filmes B de baixo orçamento. Para William C. Wees (1993, p. 42-43) os cineastas de found footage operam a imagem como discurso e não como história, se distanciando do caráter documental dos arquivos. Muitos dos cineastas experimentais do found footage fundam uma relação meta-histórica e crítica com a própria historiografia clássica do cinema. Assim o tropo da ironia se torna bastante recorrente. Wees (1993) afirma que os cineastas found footage tornam a presença do arquivo reutilizado evidente, nos convidando a ver essas imagens como imagens recicladas. Toda obra found footage diria, portanto, respeito à própria historicidade do meio, sendo filmes auto reflexivos sobre a próprio media e sua capacidade representativa. Esta auto-referencialidade, ou qualidade especular, encorajaria uma análise crítica do material agora deslocado de seu locus original. Wees (1993) se vale dos conceitos do linguistas Emilie Beneviste e de Marjorie Perloff para pensar a colagem (arte e técnica quintessencial do found footage) enquanto linguagem. A colagem foi principal arma modernista para “assaltar" ou coloca em cheque o realismo das imagens. Para Marjorie Perloff a colagem chama atenção para si mesma: “the question of referentiality inherent in collage thus leads to the replacement of the signified, the objects to be imitated, by a new set of signifiers calling attetion to themselves as real objects in the real world.”(Apud Wees, 1993, p. 46). Para Beneviste, a categoria da História prevê a ausência de um narrador específico e que os eventos “narrem por si próprios”, já na categoria do Discurso é possível identificar um narrador com uma intenção subjetiva. Assim a colagem, por ter uma auto-referencialidade ea marca da presença do autor/artista, serve como ferramenta discursiva para questionar as premissas tradicionais da natureza representativa das imagens. Jamie Baron (2014) também ressalta que aos filmes de arquivo experimentais operam sob o tropo discursivo da ironia, identificando duas variações dessa figuras de linguagem na montagem da maioria desses filmes: uma ironia mais simples, chamada antiphrasis - mais facilmente reconhecida e calcada no não-dito (que afirma o oposto do que foi dito) - e a ironia inclusiva - uma forma mais ambígua e polissêmica onde diferentes significados e interpretações que ficam suspensos em um tensão inconclusiva. Para Baron (2014 p. 36-37) a ironia pode ser percebida ou não, de acordo com o arcabouço intelectual e de referências prévias do espectador. Nesta comunicação analisarem três curta-metragens de Tscherkassky que trabalham sob o tropo ou figura de linguagem da ironia através unicamente das operações de montagem, sendo eles: Shot / Countershot (1987), Tabula Rasa (1989), ‘L'arrivée’ (1999). Seus filmes possuem camadas "meta-historiográficas" produzindo comentários sub-reptícios e chistes iconoclastas sobre as origens e estruturas fundadoras do cinema. Nesta análise também apontamos para uma “presença fantasmática” das vanguardas europeias históricas, identificando ecos do surrealismo na produção experimental contemporânea do cineasta. |
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Bibliografia | BALSOM, Erika. Exhibiting Cinema in Contemporary Art, Amsterdam University Press, 2013. |